A pesquisa em melhoramento de plantas pode se beneficiar de uma ferramenta chamada envirômica. Essa área tem ganhado notoriedade nas últimas décadas por permitir o processamento de dados em larga escala, o que ajuda na análise sobre como o clima e o ambiente interferem na lavoura.
Um estudo da Embrapa Arroz e Feijão (GO) tem demonstrado a eficácia da envirômica no progresso genético do feijão e o resultado é o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas aos locais onde é plantada, o que facilita a vida do agricultor.
A revista Field Crops Research publicou um artigo que aponta o limite de tolerância do feijão à situações de estresse para cada região do país e épocas de cultivo. Além disso, na publicação os autores sugerem situações específicas que podem nortear as pesquisas de adaptação para cultivares mais adequados e, até mesmo, personalizados.
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De acordo com o estudo realizado sobre o feijão, foram analisados 424 experimentos de campo, advindos do programa de melhoramento do feijoeiro, sendo 241 com o grão carioca e 183 com o grão preto, o que propiciou avaliar a produtividade das plantas sob o impacto da variação do clima como temperatura e umidade do ar, radiação solar e chuva.
As informações foram coletadas na plataforma de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e no banco de informações Nasa Power, da agência espacial norte-americana. Além disso, a pesquisa considerou diferentes safras e a utilização de registros históricos de campos de melhoramento da Embrapa e parceiros nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, representando uma cobertura de 98% da área de produção da planta no Brasil.
Um dos resultados indicou que, na região Centro-Oeste, o maiores impactos registrados na produtividade do feijão são frutos da radiação solar e as temperaturas máximas e mínimas. No Sul, os impactos se devem às chuvas acumuladas e as temperaturas máximas e mínimas durante as safras de verão e seca.
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Pesquisa com envirômica permite melhor desempenho das culturas

De acordo com o pesquisador da Embrapa Alexandre Bryan Heinemann, os resultados da pesquisa abrem espaço para que possam aprimorar o melhoramento da leguminosa ao personalizar novos materiais às características próprias de cada região.
“Uma decorrência desse trabalho é a possibilidade de os melhoristas desenvolverem ideótipos (cultivares) adaptados aos diferentes ambientes de produção do feijoeiro. Isso permitirá o desenvolvimento de cultivares que aproveitem ao máximo as condições climáticas locais”, disse Heinemann.
Além disso, o pesquisador destaca que a utilização da ferramenta envirômica permite a criação de cultivares climaticamente inteligentes. No Centro-Oeste, por exemplo, durante a safra da seca que ocorre entre janeiro e abril, um fator limitante é a falta de chuva. A partir de março, quando a amplitude térmica é grande ( forte oscilação entre frio e calor), prolonga o ciclo da cultura.
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Esses elementos podem servir para dar base ao teste e selecionar, de forma mais adequada, genótipos com potencial para gerar uma cultivo que responda de forma satisfatória à essas condições.
Segundo Heinemann, a envirômica se apresenta como uma ferramenta promissora para o aprimoramento das decisões que são tomadas pelos geneticistas em programas de melhoramento para a seleção de novas cultivares.
“Trata-se de uma área de trabalho que possibilita o refinamento de dados para o lançamento de cultivares voltadas não apenas para macro-regiões, mas também para localidades específicas, ambientes-alvo determinados, principalmente, quando aliam-se dados espaciais e de geoprocessamento às análises climáticas”, finaliza o pesquisador.