Uma nova ferramenta digital desenvolvida pela Embrapa Meio Ambiente está sendo utilizada para monitorar a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia e de outros itens provenientes da sociobiodiversidade amazônica.
Trata-se do AgroTagMFE, uma ferramenta que permite registrar práticas de manejo florestal diretamente no campo por meio de um aplicativo.
A plataforma, que é gratuita e de código aberto, faz parte do sistema AgroTag e foi desenhada para oferecer maior controle sobre as atividades extrativistas, contribuindo para a transparência das informações.
Nova ferramenta digital

O módulo MFE (Manejo Florestal e Extrativismo) foi adaptado a partir da base do AgroTag e atende iniciativas como os projetos “Manejo Florestal Extrativismo: criando referências para o desenvolvimento territorial na Amazônia” (MFE Amazon) e “NewCast – Novas Soluções Tecnológicas para a Cadeia da Castanha-da-Amazônia”.
A pesquisadora Luciana Spinelli, da Embrapa, destaca que o sistema possui formulários específicos voltados para produtos como açaí, andiroba, babaçu, bacuri, pau-mulato, pracaxi e, principalmente, castanha-da-amazônia. Esses formulários permitem coletar informações espaciais e temporais detalhadas sobre as áreas manejadas.
Segundo ela, o aplicativo registra dados por meio de imagens, coordenadas geográficas, desenhos e informações sobre as etapas de coleta.
Esses dados são armazenados em uma interface online com visualização por mapas interativos (WebGIS), o que possibilita a geração de relatórios e a integração com imagens de satélite. Essa estrutura facilita análises mais consistentes sobre as condições de uso da terra, sustentabilidade das áreas e métodos aplicados no manejo.
No caso da castanha-da-amazônia, a rastreabilidade tem sido uma exigência crescente do mercado internacional. O Brasil perdeu espaço para a Bolívia nesse setor, especialmente após mudanças regulatórias na União Europeia sobre o limite de aflatoxinas.
Enquanto a Bolívia se adequou rapidamente às normas, o Brasil passou a exportar castanhas com casca, que passaram a ser processadas no país vizinho.
Patricia Costa, também da Embrapa, observa que cerca de 60 mil famílias da região amazônica, incluindo povos indígenas, comunidades tradicionais e pequenos agricultores, dependem da atividade extrativista da castanha para compor sua renda.
Cadeia produtiva

A cadeia produtiva envolve mais de 100 organizações comunitárias e 60 empresas e representa uma alternativa relevante de sustento local, além de colaborar para a manutenção da vegetação nativa e a mitigação do desmatamento. Como consequência, há benefícios adicionais para o clima e o sequestro de carbono.
Outro aspecto do AgroTagMFE é sua capacidade de registrar digitalmente as informações em campo e enviá-las diretamente a um servidor, o que evita perdas e falhas no processo de coleta.
O pesquisador Luiz Vicente ressalta ainda a inclusão de espectroscopia de reflectância na análise da castanha. Essa técnica utiliza radiação eletromagnética para avaliar propriedades do alimento, substituindo parte das análises laboratoriais tradicionais com menor custo e geração de resíduos.
A combinação desses dados com os registros geográficos fortalece a comprovação de origem e da qualidade do produto, critério essencial para o comércio externo.
A plataforma segue em aprimoramento, com a previsão de incluir áreas de trabalho independentes para diferentes grupos de usuários e ampliar a participação de instituições e comunidades.