Um método laboratorial desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Embrapa Meio Ambiente (SP) promete revolucionar a forma como são identificados resíduos de pesticidas no pólen de laranjeira.
A técnica se destaca por ser altamente precisa e exigir quantidades mínimas de insumos e amostras, cerca de 100 vezes menos do que os procedimentos convencionais, reduzindo custos e o impacto ambiental.
Resíduos de pesticidas

A novidade chega em um momento decisivo para a citricultura brasileira. Maior produtor mundial de laranja, o Brasil colheu mais de 17,6 milhões de toneladas da fruta em 2023, de acordo com o IBGE.
No entanto, o uso intensivo de defensivos agrícolas para o controle de pragas tem gerado preocupação, especialmente pelo risco que os neonicotinóides, classe de inseticidas sistêmicos, representam à fauna polinizadora, como abelhas, e à saúde humana.
De acordo com os pesquisadores Robson Barizon e Sonia Queiroz, da Embrapa, a análise de pólen é fundamental tanto para monitorar os efeitos dos agrotóxicos sobre os polinizadores quanto para avaliar a segurança de seu consumo humano, já que o pólen também é utilizado como suplemento alimentar.
Inovação nos laboratórios
A metodologia se baseia em uma adaptação da técnica conhecida como micro-QuEChERS, que combina simplicidade e eficiência. Criado nos anos 2000 pelo pesquisador Michelangelo Anastassiades, o método QuEChERS, acrônimo em inglês para Rápido, Fácil, Barato, Eficiente, Robusto e Seguro, já era utilizado na detecção de resíduos em vegetais e medicamentos veterinários.
Agora, ganha nova aplicação com a integração à cromatografia líquida de ultra eficiência acoplada à espectrometria de massas (UHPLC–MS/MS), capaz de identificar e quantificar com precisão compostos químicos em pequenas amostras.
A proposta atende aos princípios da chamada química verde, que busca reduzir o uso de substâncias tóxicas e o descarte de resíduos no meio ambiente. A análise foi feita com apenas 100 mg de pólen, superando desafios como o baixo volume disponível e a complexidade da amostra.
Resultados em campo

Para validar o método, os pesquisadores analisaram amostras coletadas em áreas experimentais de cultivo de laranja. Entre os resíduos identificados estão pesticidas amplamente utilizados, como os inseticidas imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, além de compostos como abamectina, azoxistrobina e carbendazim.
As coletas foram realizadas durante a primavera de 2019, em flores de laranjeira ainda fechadas, o que garantiu a ausência de contaminações externas por deriva de defensivos.