O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de bioinsumos para a agricultura. Em 2023, cerca de 50 milhões de hectares foram cultivados usando algum insumo biológico, com destaque para os biodefensivos e biofertilizantes, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O mercado nacional movimentou em torno de R$ 5 bilhões no ano passado, nos cálculos da Blink/Croplife Brasil, alta média anual de 21% nos últimos três anos. Impulsionado pelo mercado de grãos, o setor vem crescendo também para a cadeia produtiva do hortifrúti.
Ainda segundo a Croplife Brasil, na safra 2023/2024, cerca de 6% das vendas de bioinsumos foram para produção de algodão, café, citros e hortifrúti, 12% para cana-de-açúcar, 27% ao milho e 55% para a soja.
Uso de bioinsumos no setor de hortifrúti
Os bioinsumos vêm sendo utilizados há muito tempo na agricultura brasileira, principalmente no setor de frutas e hortaliças, que vem estimulando a indústria a fornecer mais opções de produtos biológicos para controle de doenças, pragas e ervas daninhas.
Uma pesquisa realizada pela Revista Hortifrúti Brasil, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), buscou mostrar o uso e os desafios dos bioinsumos no setor de frutas e hortaliças.
O questionário virtual recebeu 107 respostas de agentes da cadeia produtiva em agosto deste ano. Desses, 52% eram produtores, 35% consultores e técnicos e os demais perfis correspondiam por 14% da amostra. A maioria, 70% comercializa sua produção no mercado nacional e cerca de 30%, nos mercados doméstico e externo.
Os resultados apontaram que 76% dos produtores utilizam bioinsumos na produção rotineiramente; 15% já utilizou e 9% não utiliza bioinsumos. Além disso, dos que fazem o uso, 30% responderam que utilizam biodefensivos, 29% biofertilizantes, 25% bioestimulantes e 13% bioinoculantes.
Quanto aos principais benefícios do uso de bioinsumos, 31% dos produtores e técnicos que responderam a pesquisa alegaram que é uma estratégia que permite maior sustentabilidade da produção; 28% veem como auxílio na rotação de defensivos químicos; 24% acham que permite um menor resíduo de defensivos químicos; 12% utiliza por conta da sua maior efetividade e 5% outros.
Desafios da cadeia de bioinsumos
Ainda de acordo com a pesquisa, 30% dos que responderam acreditam que o maior desafio do uso de bioinsumos é o preço não ser mais acessível; 29% apontam que a eficácia é equiparável ao similar químico que é mais barato; 17% acha que é por conta de falta de avanços na área de regulamentação; 16% por falta de maior disponibilidade de produtos; 3% da maior divulgação sobre os bioinsumos; e 5% outros.
Segundo Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Bioinsumos (Abbins), a principal limitação para o crescimento da produção e do mercado de insumos é a regulamentação, sobretudo dos bioinsumos fabricados on farm.
A Nova Lei dos Agrotóxicos (Lei 14.785), que foi aprovada em 2023 e deve entrar em vigor em 2025, prevê que agricultores que produzem bioinsumos para uso próprio, vão precisar de registro ou autorização do governo, da mesma forma que as indústrias.
“É claro que deve haver cuidado com o manuseio de biodefensivos, que podem trazer problemas relacionados à contaminação de alimentos. No entanto, há aqueles bioinsumos tradicionalmente utilizados, que poderiam sim ser produzidos on farm, sem necessidade de registro”, analisa o presidente da Abbins.
Para ele, apesar de ainda haver divergências, já há certa maturidade na aprovação de projetos de lei substitutivos, como os 3668/2021 e 658/2021, que tramitam no Senado e na Câmara. Os textos já foram aprovados por 52 entidades do setor agrícola.