A temperatura média na Amazônia Brasileira em 2024 ficou 1,5°C acima da média histórica, ultrapassando o limite ideal estabelecido pelo Acordo de Paris.
O dado integra o levantamento inédito do MapBiomas Atmosfera, plataforma lançada nesta terça-feira (5), às vésperas da COP30. O estudo mostra que o fenômeno não se restringe à Amazônia, em biomas como o Pantanal, o aumento foi ainda mais expressivo, chegando a 1,8°C acima da média.
Temperatura média na Amazônia Brasileira

Segundo o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, a elevação da temperatura está diretamente relacionada ao desmatamento. A Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 13% da área original, desde 1985. No mesmo período, a temperatura média do bioma subiu 1,2°C.
Um estudo publicado na Nature Geoscience, baseado em dados da plataforma, aponta que o desmatamento responde por 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante o período seco.
Entre 1985 e 2024, a temperatura do ar aumentou em média 0,29°C por década no Brasil. O aquecimento, no entanto, ocorre em ritmos distintos entre os biomas.
O Pantanal e o Cerrado lideram as maiores taxas, com 0,47°C e 0,31°C por década, respectivamente. A Amazônia segue a média nacional, enquanto Caatinga, Mata Atlântica e Pampa registram avanços mais moderados, variando entre 0,14°C e 0,25°C por década.
Desde 2014, as temperaturas no país têm permanecido acima da média do período analisado. Em 2024, o Brasil registrou a maior anomalia dos últimos 40 anos, com média 1,2°C superior à histórica.
No Pantanal, o calor recorde coincidiu com uma seca extrema, a precipitação na Bacia do Alto Paraguai ficou 314 mm abaixo da média, e houve 205 dias sem chuva. Em escala nacional, todos os estados apresentaram temperaturas de 0,3°C a 2°C acima da média.
Aquecimento em estados do interior

O levantamento também mostra que o aquecimento é mais intenso em estados do interior, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Piauí, onde o aumento chega a 0,40°C por década. Já nas regiões costeiras, o avanço é mais lento, variando entre 0,10°C e 0,12°C por década. Na região metropolitana de São Paulo, a taxa é de 0,19°C por década.
O cenário mais seco tem favorecido a propagação de incêndios. Em 2024, o volume de chuvas na Amazônia ficou 20% abaixo da média, enquanto a temperatura subiu 1,5°C. A área queimada alcançou 15,6 milhões de hectares, e a concentração de partículas finas (MP2,5) atingiu 24,8 µg/m³ no ano. No auge da estação do fogo, em setembro, esse índice chegou a 43 µg/m³, quase o triplo do observado durante o período chuvoso.
A análise também mostra contrastes regionais. Em 2024, a região Norte registrou forte déficit de precipitação, com destaque para Rondônia, onde choveu 36% menos que a média histórica.
No Nordeste, estados como Sergipe, Pernambuco e Alagoas tiveram até 272 dias sem chuva. Já o Sul apresentou comportamento oposto: o Rio Grande do Sul recebeu 19% mais chuva que o esperado, com eventos extremos em maio, quando o volume chegou a ser 150% superior à média.
Enquanto as temperaturas mostram tendência contínua de alta, o regime de chuvas tem se alternado entre períodos secos e úmidos ao longo das últimas quatro décadas. Em 2009, o país registrou chuvas 14% acima da média, mas 2023 foi o ano mais seco do período, com déficit de 18%.







