Durante a estiagem, cai a oferta de pastagens de qualidade para os bovinos, que exige do pecuarista de leite e corte uma dieta nutricional adaptada ao período. Além disso, é preciso investir em estratégias que melhorem o conforto térmico dos animais nesta época do ano.
O Brasil vive uma seca crítica, com temperaturas máximas entre 35°C e mais de 40°C, com umidade do ar em menos de 12%. Clima de deserto que exige muito dos animais, causando estresse térmico, perda de apetite, redução da produção e em casos extremos, descarte do animal do sistema produtivo ou morte.
Manejo de bovinos com conforto térmico e nutricional na seca
A pecuária de leite brasileira é composta 80% da raça girolando em diversos cruzamentos. Esses animais precisam de um conforto térmico entre 20 e 25ºC para seguir produzindo com todo o potencial.
Já na na pecuária corte, 80% do rebanho é nelore, rústico, mas que garante maior conversão alimentar em carne, em ambientes com temperaturas até 27°C.
Segundo Saudio Peixoto, médico-veterinário, especialista em produção de ruminantes, doutor em ciência animal, atual coordenador regional do Senar Goiás, os pecuaristas tanto de leite, como de corte, precisam de estratégias para garantir bem-estar, conforto térmico e nutricional a bovinos de leite e corte na seca.
“O animal em desconforto ele começa a gerar outros problemas, então ele já não vai comer direito, o sistema imunológico dele não funcionará direito, então ele vai ficar mais exposto a doenças, ele vai produzir menos”, explica.
Ele alerta que os impactos na saúde dos animais influencia diretamente na produção de leite e de carne.
“Animais acima de 3/4 do girolando, eles vão ter impacto, alguns trabalhos mostram de 20, 15% de diminuição de produção de leite. No caso do gado de corte nelore, que sofre menos, mas o estresse térmico por conta do calor afeta ainda, por isso é preciso investir em estratégias de conforto térmico pra esse animal, para melhorar a conversão alimentar, ou seja, alimento em carne”.
Saudio orienta que o pecuarista, seja de leite ou de corte, invista em ventiladores, banhos, molhamento da cama dos animais em caso de confinamento e ideias de sombreamento.
Nutrição
No período de transição seca-águas, caracterizado pelo fim da seca e início da estação chuvosa, entre os meses de setembro/outubro, as pastagens tendem a melhorar com a rebrota do capim.
Entretanto, o atraso das chuvas e as altas temperaturas podem interferir na formação do novo pasto, tornando essa fase crítica para a produção de bovinos. Por isso, é fundamental adotar alguns cuidados para garantir a nutrição dos animais, principalmente planejando, por precaução, quantidade maior de alimentos do que vai precisar.
“O recomendado é ter, no mínimo 30% a mais, pois pode haver perdas ou acontecer algum imprevisto como as queimadas e aí nesse contexto o planejamento quando fica muito justo é prejudicado”, explica Manoel Lúcio Pontes, coordenador técnico Estadual de Bovinocultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG).
Ele ressalta ainda que o uso do sal proteinado é um instrumento de manejo muito importante, pois permite que os animais comam e consigam digerir bem aquela macega que existe na pastagem, passando melhor o período da seca.
Os animais também devem ter acesso a água limpa através de bebedouros em todas as mangas (estruturas que divide quantidades menores de animais), durante todo o ano.
“Mas durante a seca, a água não só ajuda na hidratação do rebanho como também é fundamental para ajudar na digestão do capim mais seco e não prejudicar os processos metabólicos”, explica Manoel.
Sanidade
O coordenador técnico da Emater-MG recomenda que, além de tomar essas medidas, na seca, o produtor deve intensificar o monitoramento do rebanho para identificar com antecedência sinais de doenças, problemas de manejo e outras situações que podem afetar o desempenho animal. O acompanhamento constante do rebanho permite a identificação precoce de problemas e a implementação de soluções antes que eles fiquem mais sérios.