A estrutura atual de armazéns no Brasil só comporta metade da produção nacional de grãos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir 317,6 milhões de toneladas na safra 2022/2023, um volume recorde, mas os produtores só possuem capacidade de armazenagem de quase 50% do total.
O país tem apenas 15% da sua capacidade de estoque dentro nas fazendas produtoras, o restante em cooperativas. Sem condições para armazenar todos os grãos produzidos, os agricultores precisam vender a mercadoria logo após a colheita, para abrir espaço à safra seguinte, época em que a alta oferta provoca quedas nos preços e menor rentabilidade.
Falta de armazéns afeta a produção de grãos
A falta de locais específicos para armazenar a produção de grãos afeta todas as regiões do Brasil, visto que se o produtor rural tem um armazém, ele consegue economizar nos custos de entrega e nos fretes para outras unidades de armazenamento e, ainda, a padronização dos grãos, que faz com que consigam melhores preços na comercialização futura dos produtos.
“A armazenagem está relacionada com a segurança alimentar. A produtividade da soja aumentou muito, e o surgimento do milho safrinha ao longo dos anos aumentou a demanda. O investimento em armazéns tem retornos rápidos. Os produtores precisam ter uma balança na propriedade, precisam tecnificar a produção”, analisa Ricardo Arioli, presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e produtor rural em Mato Grosso.
Entretanto, construir armazéns de metal nas propriedades custa caro, a CNA acredita que a redução de juros para o produtor rural adquirir financiamento, seria uma forma de incentivar os investimentos nessas estruturas, já que pelo custo alto, muitos agricultores optam por alternativas mais em conta como silos de concreto e silos bag.
Plano Safra 2023/2024: recursos para armazéns
O Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) no Plano Safra 2023/2024 teve autorização de recursos de R$3,80 bilhões de reais, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), alta de 7% em relação à última safra (R$ 3,56 bilhões).
O limite de crédito por beneficiário é de R$25 a R$ 50 milhões com prazo de 12 anos para pagar. Para o financiamento de complexos de armazenagem de até 6 mil toneladas, a linha vai disponibilizar R$ 2,8 bilhões, a juros de R$ 7% ao ano. Para projetos maiores, o programa ofertará R$ 3,8 bilhões, a juros de 8,5% ao ano.
A CNA considerou que o Programa PCA do atual Plano Safra reduz gargalos produtivos e de infraestrutura do setor, mas que são insuficientes.
“Tivemos um aporte de quase 80%, bem expressivo nos recursos. É necessário ter o recurso garantido para que os produtores possam construir seus armazéns e silos, já que temos uma grande deficiência de armazenagem no nosso país”, afirma o vice-presidente da CNA, José Mário Schreiner.
Segundo os produtores rurais, além de ser insuficiente, a obtenção do crédito é burocrática, principalmente pelo desafio de apresentar garantias para a contratação desse tipo de obra, que chega a mais de R$ 2 milhões para um silo metálico de 100 mil sacas.