O Conselho Nacional do Café (CNC) manifestou publicamente sua preocupação com iniciativas que visam incluir a cafeicultura brasileira no Protocolo de Nagoya, acordo internacional que trata do acesso e repartição de benefícios oriundos de recursos genéticos.
Segundo a entidade, a medida pode comprometer décadas de avanços científicos e ameaçar a liderança do Brasil na produção global de café.
Liderança no café e liberação de germoplasma

Maior produtor e exportador mundial, o Brasil conquistou esse protagonismo graças à integração entre pesquisa, conhecimento técnico e esforço dos produtores, cooperativas e instituições públicas e privadas.
Para o CNC, abrir acesso ao banco de germoplasma, conjunto de informações genéticas que sustentam as inovações no setor, significaria entregar vantagens estratégicas a países concorrentes, muitos dos quais não enfrentam as mesmas exigências legais, sociais e ambientais que o produtor brasileiro.
De acordo com o Conselho, a produção nacional de café está presente em quase dois mil municípios de 17 estados, abrangendo seis biomas e empregando mais de 8 milhões de pessoas. Além disso, movimentou R$ 79,59 bilhões em 2024, ocupando a quarta posição entre os produtos do agronegócio na balança comercial brasileira.
O CNC destaca que, enquanto o Brasil adota práticas sustentáveis e uma das legislações mais rigorosas do mundo, outros países seguem operando sem os mesmos compromissos.
A entidade critica o uso de relatórios internacionais para tentar impor agendas externas à cafeicultura brasileira e questiona os reais interesses por trás dessas pressões, que, segundo o Conselho, podem esconder objetivos comerciais.
Adaptação da cafeicultura nacional

A entidade ainda reforça a capacidade de adaptação da cafeicultura nacional, que migrou com sucesso entre regiões ao longo das décadas em resposta às mudanças climáticas, mantendo o abastecimento global e a competitividade.
Diante dos riscos apontados, o CNC informou que optou por não participar da consulta promovida pelo Secretariado do Tratado Internacional e pelo CIRAD, ressaltando a necessidade de uma resposta estratégica e articulada com o Itamaraty e outros órgãos do governo.
A entidade reafirma sua posição contrária ao compartilhamento do banco genético do café e defende a preservação da soberania científica e produtiva do setor.