Um inseticida sustentável mais eficaz foi desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP) em parceria com o Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O trabalho resultou em um sistema de liberação controlada da molécula inseticida tiametoxam.
O encapsulamento foi realizado em nanomicelas poliméricas, estruturas menores que um bilionésimo de metro, ou mais de 80 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo e os estudos mostraram que a aplicação de nanopesticidas pode ser muito mais eficaz em comparação com os pesticidas convencionais já existentes e poderá, em futuro próximo, substituí-los completamente.
Inseticida sustentável
Nanopesticidas referem-se a formulações que utilizam nanomateriais em sua composição e que apresentam elevada eficiência de aplicação e menos efeitos tóxicos ao ambiente em comparação com as formulações convencionais do mesmo ingrediente ativo.
Nessa pesquisa, o método de formulação utilizado foi o nanoencapsulamento do ingrediente ativo estudado, resultando em uma liberação sustentada pelas nanopartículas, elevada estabilidade e especificidade.
“Os resultados indicaram que as nanoestruturas foram eficazes com uma dose aproximadamente duas vezes menor comparada às formulações comerciais”, explica a analista da Embrapa Marcia Assalin, e coordenadora do estudo.
A eficiência do nanoinseticida foi avaliada por meio do controle, em casas de vegetação, do inseto (Diaphorina citri) responsável pela disseminação do greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, causado pela bactéria Candidatus liberibacter spp. A doença acomete todas as plantas cítricas e não tem cura. Uma vez contaminada, não é possível eliminar a bactéria da planta, que fica agindo como fonte de inóculo para contaminação de outras plantas.
Além de aumentar a eficiência, o novo produto pode levar a uma redução do número de aplicações, atenuação no desenvolvimento de resistência das pragas ao inseticida, e diminuição do impacto ambiental e dos custos associados.
Tiametoxam e o Greening
O greening é uma das mais importantes doenças dos citros da atualidade. A sua severidade se dá principalmente pela rápida e eficiente disseminação das bactérias pelo inseto Diaphorina citri e pela ausência de resistência genética em citros.
Já o tiametoxam, um dos princípios ativos utilizados no controle da doença, pertence a uma classe relativamente nova de inseticidas, os neonicotinodes, que estão no mercado desde o início dos anos 1990 e integram a lista dos produtos agrotóxicos mais vendidos.
Assalin afirma que, na aplicação do inseticida convencional, inúmeras perdas podem ocorrer devido a diversos fatores, como técnicas de aplicação utilizadas, condições ambientais, degradação por fotólise e lixiviação. Isso leva a repetidas aplicações, resultando no uso de inseticidas em quantidades maiores do que o necessário para controlar o inseto vetor.
“Além disso, é extremamente importante ressaltar que os inseticidas neonicotinoides são altamente tóxicos para insetos polinizadores como as abelhas, tendo sido banidos dos campos da União Europeia por esta razão”, explica.
Formulações de pesticidas nanoencapsulados permitem a liberação controlada do ativo, bem como proteção contra sua degradação prematura, possibilitando o uso do inseticida convencional de maneira mais eficiente e sustentável. Por isso, avaliar a efetividade de formulações de pesticidas encapsulados é essencial para viabilizar seu uso na agricultura.