Dia 10 de novembro é comemorado o Dia do Trigo no Brasil, alimento fundamental para a humanidade. No País, o trigo foi introduzido pelos portugueses, no século XVI, na região central, destacando-se depois no Sul, a experiência dos açorianos (por volta de 1750) e, posteriormente, com as imigrações alemã (1824) e italiana (1875).
Até 1980, a produção de trigo no Brasil, estava, exclusivamente, concentrada na Região Sul. Desde então, o cultivo avançou para os estados do Brasil Central, bioma Cerrado, Região Centro-Oeste, consolidando uma triticultura genuinamente tropical. O novo projeto de expansão atual é voltado aos estados das regiões Norte e Nordeste.
Expansão da produção de trigo no Brasil
Nos últimos 50 anos a área cultivada com trigo no Brasil quase duplicou: de 1,6 milhão de hectares, em 1973, para 3,1 milhões, em 2022. Já a produção neste mesmo período, foi quintuplicada, passando de 1,9 para 9,6 milhões de toneladas anuais, suprindo 70% da demanda nacional.
A produtividade também deu grandes saltos, atingindo o patamar de 3,1 toneladas por hectare, que correspondente a 2,7 vezes à obtida em 1973. O Brasil, atualmente, faz parte do grupo dos países importadores e exportadores de trigo.
A expansão do território plantado também foi expressivo. Em 1973, cinco estados brasileiros plantavam trigo: Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Hoje, nove estados produzem o cereal: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal.
O aumento da produtividade e da área cultivada com trigo é resultado da pesquisa agropecuária, com a criação de novas cultivares mais adaptadas às condições climáticas nacionais; o desenvolvimento de métodos eficientes de controle de pragas e doenças; o aprimoramento do sistema de rotação de culturas com técnicas que propiciaram melhorias na qualidade do solo; a interação com os diferentes elos do complexo agroindustrial do trigo por meio de parcerias que visam a assegurar sustentabilidade econômica, social e ambiental, desde o campo até a mesa do consumidor.
Produção referência mundial
O sucesso da triticultura brasileira, consolidando o trigo tropical como uma nova fronteira agrícola, pode ser atribuído ao trabalho de equipes de pesquisadores de cerca de 40 instituições de pesquisa públicas e privadas nacionais, incluindo a Embrapa Trigo. Hoje, o Brasil é referência mundial na produção.
Para estimular o cultivo e o uso do trigo nacional, o governo estabeleceu, na década de 1960, medidas protecionistas, como o Decreto-Lei nº 210, de 27 de fevereiro de 1967, que proibia a comercialização de trigo nacional e importado pelo setor privado, e, o Estado, por esse decreto, assumiu a compra e a venda desse cereal.
A internacionalização da economia, no início dos anos 1990, impôs um novo desafio para a triticultura brasileira – a qualidade tecnológica do trigo – e, com ela, a determinação do fim da intervenção estatal no complexo agroindustrial do trigo no Brasil. Esta medida trouxe ameaças e oportunidades para a pesquisa nacional, como a necessidade de estabelecer padrões de classificação comercial do trigo, caracterização da qualidade do trigo produzido e a inclusão da qualidade do trigo como um dos critérios para o melhoramento genético das cultivares comerciais.
Hoje, todas as cultivares registradas apresentam diversas características de qualidade, para atender a demanda de informações dos diferentes mercados que utilizam o trigo como matéria-prima, seja para a alimentação humana, ração para animais ou outros usos industriais. Estão disponíveis cultivares para os diferentes usos: panificação industrial e caseira, fabricação de massas, biscoitos, bolos, pizzas, confeitaria, indústria de proteína animal e biocombustíveis, entre outros.
Novas fronteiras agrícolas
Para maior expansão do trigo na região tropical, tornando o Brasil independente de importações de trigo, a pesquisa vem consolidando novas fronteiras agrícolas no Norte e Nordeste, a superação da doença conhecida por brusone e dos problemas causados por seca e calor. E na região tradicional de trigo, o Sul do País, contornar os problemas causados pela doença giberela e pelo excesso de chuva na colheita, que pode ocasionar o início da germinação dos grãos ainda na espiga, antes da colheita.
História do trigo
O cereal surgiu, há cerca de 10 mil anos, por meio de cruzamento natural entre gramíneas selvagens, na região chamada de Crescente Fértil, oeste da Ásia, que abarca os territórios de países como Síria, Líbano, Turquia, Iraque e Irã.
O consumo desse alimento antes, era diferente do atual: do grão torrado no fogo e semelhante a pipoca ou triturado grosseiramente e cozido, passou, também, a ser consumido em forma de uma massa fina e achatada assada sobre pedras quentes, o que depois se tornou o pão e do biscoito modernos. Com a descoberta da fermentação biológica – atribuída ao acaso, associada ao desenvolvimento de técnicas de moagem mais aprimoradas, os pães primitivos passaram a ter melhor sabor.
A composição química e estrutura do grão de trigo, com predominância de carboidratos (74%) e proteínas (14%) e a possibilidade de separação em três componentes principais – endosperma (83%), farelo (14%) e gérmen (3%), configuram esse cereal como matéria-prima de alta versatilidade. Pode ser usado em receitas domésticas e industriais, tanto para alimentação humana quanto animal, na área farmacêutica, como colas no setor de mobiliário, entre outros.