O El Niño é um fenômeno climático natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial, que influencia no clima e pode trazer uma série de efeitos indesejados inclusive na agricultura.
O Nordeste e o Norte do Brasil são mais propensos a secas durante El Niño, enquanto o Sul e o Sudeste são mais propensos a chuvas mais intensas. O artigo foi publicado por Éder Comunello, Rodrigo Arroyo Garcia, Danilton Luiz Flumignan, Carlos Ricardo Fietz, pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste.
El Niño no Brasil
Os efeitos do El Niño podem variar bastante nas distintas regiões do globo e no Brasil, por conta da grande extensão territorial, é possível encontrar uma grande diversidade de condições locais, como relevo e topografia, que levam a respostas diferenciadas do fenômeno.
Localizada na faixa de transição entre o clima tropical e o clima subtropical, a região Centro-Oeste se comporta de maneira mais próxima ao que ocorre no Sul do Brasil, mas esses efeitos tendem a ser menos intensos. Um exemplo desses efeitos na agricultura e pecuária é o Mato Grosso do Sul.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), são necessários três trimestres consecutivos com anomalia acima de 0,5 °C para declarar oficialmente El Niño. A publicação do valor da anomalia de temperatura do último trimestre (Junho-Julho-Agosto) confirmou que teremos uma safra de verão sob efeitos do El Niño. Desde 2001, essa será a oitava safra de verão cultivada sob efeitos de El Niño.
Os possíveis impactos negativos que preocupam os agricultores são decorrentes do excesso de chuvas, que podem impedir operações de manejo e tratos culturais, e as temperaturas excessivamente altas, que podem afetar diretamente a fisiologia e produção das culturas. A combinação do aumento das chuvas e temperaturas pode favorecer pragas e doenças, exigindo maior atenção e controle.
Mesmo com o aumento dos volumes totais precipitados, ainda existe a preocupação com veranicos em período de El Niño. Isso porque é notável a má distribuição das chuvas nesses períodos, com o agravamento de temperaturas mais elevadas.
Impactos do El Niño na agricultura
O impacto econômico da ocorrência de El Niño deve-se tanto à redução potencial da produção – inclusive por perdas na colheita -, como pelo encarecimento dos insumos necessários e práticas agrícolas adotadas (como controle de pragas e doenças). Em qualquer caso, espera-se um incremento no custo de produção por tonelada produzida.
Prevenir os efeitos do El Niño é uma tarefa difícil, mas estratégias podem reduzir ou mitigar os impactos negativos causados por ele. Com um planejamento e ação à longo prazo, tal como a adoção de sistemas mais sustentáveis e resilientes, a exemplo do plantio direto. Um solo mais estruturado e protegido pela palhada torna-se menos susceptível aos efeitos indesejados ou inesperados do clima.
Manejo com El Niño
A ideia do artigo é orientar medidas à curto prazo. Com um cenário de chuvas intensas, o mais adequado é evitar ou adiar práticas agrícolas que possam desestruturar o solo, tais como aração, subsolagem ou escarificação. A manutenção de palhada também é desejável para a conservação do solo. Inspeção e manutenção de terraços também é uma prática desejada.
Uma outra estratégia é o plantio escalonado, utilizando mais de uma data de plantio e com intervalo de alguns dias entre elas. Com partes da lavoura em diferentes estádios de desenvolvimento existe maior chance de escapar de eventos indesejados, como uma seca no período crítico ou chuva na colheita.
Seguir as recomendações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é outra ação a ser tomada. O ZARC indica épocas com maior chance de sucesso, independentemente da ocorrência de El Niño ou La Niña.
É preciso acompanhar atentamente as previsões de tempo para programar os tratos culturais. Deve-se estar atento para não atrasar as pulverizações de fitossanitários, especialmente porque nesse cenário doenças e pragas tendem a se intensificar. Outra preocupação é com a prática de dessecação para colheita, que não deve ser realizada antes de períodos de chuva.