Um estudo desenvolvido no município de Marianópolis, no oeste de Tocantins, mostrou que cultivar o milho antes da colheita soja, aumenta a produtividade e reduz os riscos da segunda safra tardia.
A Tecnologia Antecipe, desenvolvida pela Embrapa intercala o cultivo do milho e promove aumento do número de espigas e da produtividade de grãos de milho em 287%, comparado ao plantio convencional desse cereal pós-soja.
Milho cultivado antes da colheita de soja
Com o novo sistema, os pesquisadores registraram a média de 3.062 quilos por hectare nos experimentos realizados no Tocantins.
O estudo comparou três sistemas de cultivo: intercalar do milho antes da colheita da soja (o Antecipe), a semeadura do milho após a colheita da soja e um terceiro sistema denominado “padrão do produtor”, em que o milho foi semeado após a colheita da soja no mesmo dia do Antecipe.
A pesquisa foi executada pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), Embrapa Milho e Sorgo (MG) e Embrapa Pecuária Sudeste (SP).
“O Antecipe é uma tecnologia com potencial de aumentar a produção de milho na segunda safra no Tocantins, respeitando a janela de recomendação para o milho safrinha no estado”, declara o agrônomo da Embrapa Francelino Peteno de Camargo, responsável pelo experimento no estado.
Como funciona o Antecipe
O Sistema Antecipe permite a semeadura mecanizada do milho nas entrelinhas da soja durante a fase de enchimento de grãos da leguminosa, a partir do estádio R6. O milho é cortado durante o processo de colheita da soja, reduzindo a área foliar das plantas.
Entretanto, como o ponto de crescimento encontra-se abaixo da superfície do solo, a planta continua seu crescimento, sem prejuízo à produtividade de grãos. Essa desfolha deve ocorrer até o estádio de desenvolvimento V5 do milho, pois, se realizada após esse período, há perda de produtividade.
Essa estratégia permite ao produtor antecipar o plantio do milho safrinha em até 20 dias antes da colheita da soja, reduzindo os riscos de perdas por condições climáticas desfavoráveis, típicas do final do verão e início do outono.
Com o plantio antecipado, a cultura do milho aproveita melhor as chuvas do início da estação, resultando em ganhos significativos de produtividade e rentabilidade.
A técnica também reduz os custos de produção da soja, eliminando a necessidade de dessecação da cultura para antecipar a colheita, o que beneficia o produtor em aspectos operacionais, econômicos e ambientais.
Outras culturas
O pesquisador Emerson Borghi explica que os cultivos intercalares antecipados nas entrelinhas da soja, antes de sua colheita, permitem semear a segunda cultura, que pode ser de milho, sorgo, milheto, gergelim ou pastagens, de acordo com a região e o negócio da propriedade.
Sustentabilidade
Borghi ainda ressalta o impacto ambiental da tecnologia, pois tudo é feito em plantio direto, garantindo uma pegada de carbono ainda mais efetiva, ou seja, produção sustentável.
Sucesso do Antecipe no Brasil
O Tocantins é um dos oito estados em que o Antecipe gerou bons resultados. O sistema já foi validado em várias regiões do país que adotam a safrinha: Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás, Bahia, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
O líder do projeto, o pesquisador Décio Karam, conta que os resultados têm sido promissores, tanto nas operações de plantio intercalar do milho como na colheita da soja.
Em Goiás, por exemplo, ocorreram os resultados expressivos na segunda safra de 2021. Em um experimento conduzido em Rio Verde (GO), o Antecipe entregou 66 sacas de milho por hectare. Na semeadura tradicional, com o milho semeado após a colheita da soja, a produtividade foi de 28 sacas por hectare.
Maquinário para o Antecipe
Lançado em 2020, o pacote tecnológico Antecipe precisou desenvolver novo equipamento para viabilizar o método inédito de cultivo, com uma semeadora-adubadora, que já conta com pedido de patente pela Embrapa, e comercializada em parceria com a empresa Jumil.
A máquina combina plantio e adubação de milho nas entrelinhas da soja sem causar danos mecânicos, amassamento ou perda de área foliar da cultura sucessora e ainda preservando a produtividade da oleaginosa.