Nos últimos cinco anos, os produtores de grãos navegaram entre períodos de otimismo e fases de cautela. Entre 2020/21 e 2021/22, a demanda internacional aquecida, impulsionada pela pandemia e pelo temor de desabastecimento, elevou os preços das commodities.
Com base na estimativa da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a desvalorização do Real frente ao dólar também favoreceu a receita bruta das lavouras. Nesse cenário, propriedades do Centro-Oeste e do Paraná conseguiram operar com custos competitivos e margens positivas, enquanto o Sul, especialmente o Rio Grande do Sul, sofreu com estiagens que limitaram os ganhos.
Produtores de grãos

O ano de 2022 trouxe novos desafios. O conflito entre Rússia e Ucrânia provocou disparada nos preços de fertilizantes, e muitos produtores adquiriram insumos a valores elevados, apostando na manutenção das cotações altas.
Porém, ao longo do ano, os preços dos grãos caíram, e o aumento dos custos combinou-se com receitas menores, pressionando a rentabilidade da safra 22/23, principalmente no Sul.
A safra 23/24 manteve o cenário de dificuldades. Apesar da redução nos preços dos insumos, os custos permaneceram altos, enquanto os preços das commodities seguiam em queda.
O clima adverso, com temperaturas elevadas e chuvas irregulares, afetou especialmente Mato Grosso, reduzindo a produtividade da soja e mantendo os lucros em patamares baixos em Sorriso (MT) e Maracaju (MS).

Já em 2024/25, a semeadura da soja no Centro-Oeste sofreu com a falta de chuvas no início do ciclo, embora ainda tenha sido realizada dentro do período recomendado. No Sul, o cenário foi misto, no Rio Grande do Sul, o excesso de chuva atrasou o plantio, enquanto o Paraná se beneficiou da semeadura antecipada. Ainda assim, o Rio Grande do Sul registrou quedas significativas de produção devido à seca entre o final de 2024 e início de 2025.
O Projeto Campo Futuro, desenvolvido por CNA, Senar e Esalq-Cepea, avaliou o desempenho econômico da soja e do milho em cinco regiões do país, sendo em Carazinho (RS), Cascavel (PR), Rio Verde (GO), Sorriso (MT) e Maracaju (MS), no período de 2020/21 a 2024/25.
O estudo considerou custos operacionais, depreciação e juros sobre capital investido, e a receita bruta calculada a partir da produtividade média e do preço de cada safra, com valores atualizados pelo IGP-DI de julho de 2025.
Os dados mostram que, enquanto as primeiras duas safras do período registraram margens positivas em todas as regiões, os impactos da estiagem e do clima adverso trouxeram margens negativas no Sul a partir de 2022/23. No Centro-Oeste, as dificuldades climáticas em 23/24 reduziram a produtividade sem sustentar a valorização dos preços, resultando em perdas para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O levantamento evidencia que, embora as oportunidades de lucro existam, fatores externos como clima, preços internacionais e custo dos insumos continuam determinando a estabilidade econômica do setor.