O setor agropecuário é o mais afetado pelas chuvas e enchentes no RS (Rio Grande do Sul), de acordo com informações da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). A entidade aponta que os danos financeiros sejam de mais de R$ 423,8 milhões.
Sindicatos rurais, associações de classe, a Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) e várias outras instituições, inclusive de outros estados, estão unindo esforços com a sociedade civil.
O foco inicial é realizar os resgates e socorros possíveis, tanto de pessoas quanto de animais, diante da tragédia em andamento. Posteriormente, o objetivo será compreender os impactos e consequências para o estado gaúcho após esse evento catastrófico. Segundo nota da CNM os dados serão infinitamente superiores aos já apontados.
“A maioria dos municípios afetados ainda enfrenta situação extrema e atua no resgate às vítimas, com ações de socorro e acolhimento. Milhares de pessoas ainda estão ilhadas, aguardando resgate em cima de telhados e árvores, e outras milhares desabrigadas”, diz o documento.
De acordo com os registros da instituição, os prejuízos no estado, abrangendo vários setores e o governo, já totalizam R$ 559,8 milhões. Contudo, essa cifra pode ser ainda maior. Esses números se referem somente a 19 municípios que forneceram dados à entidade.
No entanto, até agora, 170 cidades declararam estado de calamidade para a Defesa Civil nacional. Segundo informações da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, mais de 340 municípios foram impactados.
Recursos após as enchentes no RS
A confederação expressou críticas à falta de repasse de recursos por parte do governo federal para auxiliar o estado no enfrentamento do desastre ocorrido no ano passado, desencadeado pela passagem de um ciclone extratropical.
“O ciclone levou à morte de 51 pessoas e causou mais de R$ 3 bilhões em prejuízos financeiros. Desse total, o governo federal prometeu o montante de R$ 741 milhões, mas repassou apenas R$ 81 milhões, o que representa 11% em relação ao prometido, sendo que parte desse recurso ainda se refere a repasses indiretos”. As ações de resposta durante o desastre e as ações de recuperação de um Município após o desastre requer apoio federal imediato e que atenda às demandas da população”, afirma a nota.
De acordo com a CNM, o montante repassado não seria suficiente para recuperar os danos causados apenas à cidade de Muçum, situada no Vale do Taquari, em relação ao desastre ocorrido em 2023.
No mesmo ano, os desastres climáticos impactaram 37,3 milhões de pessoas em todo o Brasil, resultando em 258 óbitos, 126.345 pessoas desabrigadas e 717.934 desalojadas, conforme informações da CNM. Os prejuízos financeiros atingiram a marca de R$ 105,4 bilhões em todo o país. A agropecuária lidera a lista dos setores afetados, com prejuízos significativos.
Balanço do Cepea
O Cepea já fez um primeiro balanço das principais cadeias afetadas. As chuvas não só afetaram as lavouras e criações, como também a logística.
“O CEPEA, que acompanha e analisa de perto as atividades do agronegócio no Rio Grande do Sul, captando as condições socioeconômicas de seus produtores rurais, neste lamentável momento de catástrofe climática, se solidariza com eles – e com a sociedade gaúcha como um todo – diante das substanciais perdas de renda e patrimonial, mas, acima de tudo, das vidas humanas sacrificadas”, trouxe uma nota da instituição neste final de semana.
O Cepea trouxe suas projeções divididas entre os principais setores do agronegócio gaúcho.
Arroz
A produção de arroz enfrenta um desafio significativo devido às chuvas intensas, o que pode resultar em uma redução considerável na produtividade. Isso é agravado pelo atraso na colheita em comparação com anos anteriores.
As tempestades inundaram as plantações, retardando ainda mais os trabalhos de campo. Essa situação pode afetar o abastecimento nacional, considerando que o estado é o principal produtor de arroz do país.
“Há preocupação com o abasteciemtno no Brasil e seus impactos no custo de vida das famílias, em especial as mais pobres. Algumas estradas estão interditadas, o que também dificulta o carregamento do cereal”, afirmam os pesquisadores do Cepea.
Os últimos dados reportados pelo IRGA (Instituto Rio-Grandense do Arroz) apontavam para um rendimento médio do estado esperado em 8.6
Soja
De acordo com os dados mais recentes da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), apenas 60% da área destinada ao cultivo de soja foi colhida, em comparação com os 70% registrados no mesmo período do ano anterior.
Isso significa que os 40% restantes estão quase completamente submersos, sofrendo uma deterioração contínua em qualidade e produtividade a cada dia. A falta de exposição solar adequada, essencial para concluir os ciclos de crescimento, agrava ainda mais essa situação. O Rio Grande é o segundo maior produtor de soja do Brasil.
“O excesso de umdidade tende a elevar a acidez do óleo de soja, o que pode reduzir a oferta de boa qualidade deste subproduto, especialmente para a indústria alimentícia”, afirma o Cepea.
Milho
Para o milho, a situação segue semelhante. A colheita encontra-se interrompida devido às inundações, mesmo estando em sua fase final. Segundo dados da Emater/RS, cerca de 83% da área destinada ao cultivo de milho já foi colhida.
Frango, suínos e ovos
“Relatos de agentes consultados pelo Cepea indicam que algumas propriedades de produção suinícola e avícola foram danificadas e agentes ainda estão à espera que a situação seja normalizada para que os prejuízos sejam calculados”, afirma a instituição.
Todo este cenário se agrava na medida em que os produtores não conseguem atender às demandas ou ao menos cuidar de seus animais, uma vez que a chegada dos insumos – como ração, caixa e embalagens – está bastante comprometida.
Ainda segundo o Cepea, o atual quadro também deixa interrompidas as negociações do setor, o que poderia ser mais um fator a comprometer o abastecimento no estado e no Brasil.
Pecuária de corte
Na pecuária de corte, a situação é parecida. Muitos animais foram perdidos, muitos estão isolados e há lotes de animais destinados ao abate que não podem ser transportados para os frigoríficos devido às condições adversas. Consequentemente, muitos compradores e vendedores estão afastados do mercado, aguardando que a situação seja estabilizada, conforme comunicado do órgão.
Hortifruti
O Cepea relata que, entre os produtos hortifrutícolas monitorados no Rio Grande do Sul durante as cheias, a cenoura foi a mais afetada até o momento. A extensão das perdas na região produtora de Caxias do Sul ainda não pôde ser completamente avaliada, mas a situação é crítica. Por outro lado, em Vacaria, localizada em uma altitude mais elevada, os danos causados pelo temporal foram menos intensos, segundo os pesquisadores.
Consequentemente, nos últimos dias, houve uma redução considerável na amostragem de preços da cenoura.