O Brasil pode se tornar o maior exportador mundial de milho, ultrapassando em volume os Estados Unidos na safra 2022/23, com cerca de 51 milhões de toneladas entre outubro de 2022 e setembro de 2023, de acordo com a estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em fevereiro.
Segundo Lucílio Alves, professor da Esalq/USP e pesquisador responsável pelas Equipes de Grãos, Fibras e Amidos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), em seu artigo “Com amplo excedente, Brasil pode superar EUA e se tornar o maior exportador mundial de milho”, o fato seria inédito para o setor exportador nacional.
As exportações crescentes e a tendência de que o cenário continue são resultados de um excedente de produção previsto em 55 milhões de toneladas tanto na temporada 2021/22 quanto na 2022/23, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que estarão disponíveis para compradores estrangeiros.
“Para a temporada 2022/23 (colheita em 2023), a estimativa é de disponibilidade interna ainda maior, de 134,43 milhões de toneladas, com demanda de 79,38 milhões de toneladas aos preços previstos no mercado internacional no período”, aponta artigo de Lucílio publicado pelo Cepea.
Mas, é preciso levar em conta que 3/4 da produção interna vem do milho de segunda safra, que ainda está sendo plantado, com área já semeada em mais de 60% e que vai necessitar de condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento. Produto que estará disponível a partir do segundo semestre de 2023.
Diante do excedente de produção desde 2022, o USDA estima novo avanço nas exportações brasileiras do cereal. E o Brasil, pode inclusive, se posicionar como o maior exportador mundial na temporada 2022/23.
Competição pelo posto de maior exportador de milho
De outubro de 2022 a janeiro de 2023, os Estados Unidos exportaram 10,37 milhões de toneladas, enquanto o Brasil embarcou 25,1 milhões de toneladas. Mas, no acumulado de 12 meses, de fevereiro de 2022 a janeiro de 2023, as exportações norte-americanas somaram 52,8 milhões de toneladas, contra 46,6 milhões das brasileiras.
Esse valor é o maior volume já exportado pelo Brasil em um período de 12 meses, enquanto os Estados Unidos já chegaram a embarcar 68,1 milhões de toneladas entre agosto de 2020 e julho de 2021.
Ao considerar um período acumulado de 12 meses, o Brasil já exportou mais que os Estados Unidos durante 2013 e o início de 2014, quando a produção norte-americana foi prejudicada por uma seca severa, assim como entre o final de 2019 e o começo de 2020, quando também houve restrição da oferta nos EUA.
China começa a comprar milho brasileiro
Vale considerar que a partir de 2020 a China passou a importar maiores volumes no mercado internacional, se tornando o maior comprador do milho norte-americano em 2021 e em 2022.
É nesse mesmo contexto que leva a expectativas positivas para as exportações brasileiras nos próximos meses e anos, com os avanços nos acordos comerciais com a China, que autorizou a importação do milho brasileiro em 2022 e já se tornou o maior destino do milho brasileiro em dezembro de 2022 e em janeiro de 2023.
Nos últimos meses, além do grande excedente interno, a demanda externa pelo cereal nacional também foi favorecida pelas restrições nos maiores exportadores mundiais, como Estados Unidos, Argentina e Ucrânia. Os dois primeiros países enfrentaram condições climáticas adversas, enquanto a guerra limitou a oferta e a capacidade exportadora do país do leste europeu.
Produção de milho brasileira
Para o milho, a expectativa de produção total teve um aumento de aproximadamente 1 milhão de toneladas, totalizando 124,7 milhões de toneladas, aumento de 10,2% segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Safra global de milho
A safra global de milho para 2022/2023 foi projetada em 1,14 bilhão de toneladas, ajuste de 0,3% ante o relatório de janeiro. O USDA estimou os estoques finais em 296,46 milhões de toneladas, acima das 295,28 milhões de toneladas indicadas em fevereiro.