O município de Mateiros, no leste do Tocantins, recebeu o título oficial de Capital Nacional do Capim Dourado, matéria-prima para peças de artesanato e uma das principais fontes de renda da região.
O reconhecimento veio por meio da Lei 15.050/24, publicada no Diário Oficial da União (DOU), no último dia 23 de dezembro.
Mateiros: Capital Nacional do Capim Dourado
A proposta de tornar o município Capital Nacional do Capim Dourado teve origem no Projeto de Lei PL 3.356/2021, da Câmara dos Deputados, de autoria do deputado Carlos Henrique Gaguim (União-TO).
“O artesanato de capim dourado não é apenas uma atividade econômica vital para a comunidade local, mas também um símbolo cultural que representa a identidade e a tradição do povo de Mateiros e das comunidades vizinhas”, observou o relator do projeto na Comissão de Educação do Senado, o senador Irajá (PSD-TO).
O município de Mateiros tem cerca de 2.748 pessoas, segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Boa parte da economia da região vem turismo do Jalapão, da área agricultável e do extrativismo e artesanato do capim dourado.
Capim Dourado
![Mateiros no Tocantins recebe título de Capital Nacional do Capim Dourado 2 Espécie é extraída por coletores de campos de Mateiros, na região do Jalapão, no Tocantins.](https://agro2.com.br/wp-content/uploads/2024/12/especie-e-extraida-por-coletores-de-campos-de-Mateiros-na-regiao-do-Jalapao-no-Tocantins.jpg)
O Capim dourado (Syngonanthus nitens), apesar do nome, não é um capim, pois não pertence à família das gramíneas. A haste dourada com uma pequena flor branca no topo é da família das sempre-vivas.
É uma planta exclusiva e nativa da região do Cerrado do Tocantins, que cresce em campos úmidos, perto de veredas. Cada pé é uma roseta que produz hastes com flores pequenas, que dão origem a frutos secos.
O capim dourado é a principal matéria-prima para a confecção peças de artesanato pelos quilombolas da região do Jalapão.
Coleta
A coleta das hastes de capim dourado acontece na época do dia 20 de setembro e segue até novembro todos os anos, para que não corra risco de extinção.
Os campos naturais de capim dourado são extensos e distantes, por isso muitos coletores acampam no local durante o período de coleta e só retornam quando estão com a quantidade de hastes suficientes para trabalhar durante o ano.
Os coletores são das comunidades tradicionais quilombolas, organizadas em associações e credenciados pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). A coleta das hastes é feita deixando para traz as flores, que carregam as sementes e devem ser deixadas nos campos para germinar e dar origem a novas hastes.
Outra regra ambiental que precisa ser observada pelos coletores é que as hastes não podem sair da região in natura, apenas em forma de artesanato. Os coletores e artesãos respeitam o ciclo natural de colheita e o manejo correto da planta, a fim de que a espécie continue produzindo e a extração seja sustentável.
Tradição do Capim Dourado
![Mateiros no Tocantins recebe título de Capital Nacional do Capim Dourado 3 Cor dourada e brilho natural garantem fama às peças artesanais.](https://agro2.com.br/wp-content/uploads/2024/12/cor-dourada-e-brilho-natural-garantem-fama-as-pecas-artesanais.jpg)
A técnica de coletar as hastes da planta e transformá-la em artesanato vem dos índios Xerente. A comunidade quilombola de Mumbuca, no município tocantinense de Mateiros, desenvolveu o artesanato a partir dos anos 1920 e perpetua a tradição por gerações.
A atividade era restrita a mulheres para uso doméstico e venda esporádica, até se espalhar por todo o Jalapão a partir da década de 1990, após políticas públicas de apoio e divulgação do artesanato em feiras e pontos de venda na capital do Estado, Palmas.
No mesmo período, o Jalapão passou a fazer parte do roteiro de turismo off-road e ecoturismo e o artesanato de capim dourado também se tornou conhecido em outros estados brasileiros e no exterior por sua cor dourada e brilho natural.
Artesanato
Os artesãos transformam as hastes do capim dourado em peças como bijuterias, bolsas, chapéus, lustres e outros artigos decorativos, que são vendidos mundialmente, pois carregam a delicadeza do trabalho manual e a herança cultural dos povos que há séculos habitam a região.
Com a possibilidade concreta de obtenção de renda proveniente de sua venda, a prática artesanal do capim dourado passou a interessar a todos: mulheres, homens e crianças. Hoje, a venda de produtos artesanais constitui importante fonte de renda, sendo em muitos casos, o principal ou único rendimento das famílias.
A Lei 15.005, de outubro de 2024, já reconheceu o artesanato em capim dourado como manifestação da cultura nacional.