Os incêndios no Pantanal consumiram mais de 61 mil hectares do bioma nos últimos quatro dias, conforme informou o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ).
Desde o início do ano até esta quinta-feira (27), o fogo já devastou 688.125 hectares do bioma.
Renata Libonati, coordenadora do Lasa-UFRJ, destacou que, apesar das condições adversas causadas pela mudança climática, os incêndios só ocorrem com uma ignição inicial.
Após uma análise técnica, constatou-se que entre maio e junho não houve incidência de raios na região, indicando que as causas das queimadas são de origem humana.
“Mesmo havendo proibição do uso do fogo em qualquer circunstância, os incêndios continuam acontecendo”, afirmou.
A pesquisadora apontou que a seca extrema, temperaturas acima do normal e a vegetação predisposta a incêndios tornam o controle do fogo extremamente difícil, mesmo com temperaturas mais amenas nos últimos dias.
“Os indicadores de dificuldade de se controlar o fogo que refletem as condições climáticas são os mais altos já registrados desde pelo menos 2003”, observou.
Pontos de incêndio
O Ministério Público Estadual identificou 18 pontos de ignição em 14 locais de 12 propriedades privadas, conforme informou o promotor de Justiça do Núcleo Ambiental, Luciano Furtado Loubet.
Ele explicou que o trabalho de investigação e responsabilização é realizado em parceria com as forças militares do estado, tanto na área administrativa quanto criminal, através da Polícia Militar Ambiental.
As atividades de prevenção incluem visitas e notificações às propriedades prioritárias pelos bombeiros, além de recomendações para que os proprietários façam aceiros, treinem brigadistas e se inscrevam no sistema Pantanal em Alerta, que envia informações sobre focos de calor.
Em visita ao município de Corumbá, onde a incidência de fogo é maior, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, apelou para que não haja mais manejo de fogo na região.
“Se não pararmos de colocar fogo, não há quem consiga lidar com essa combinação perversa de El Niño e La Niña, sem sequer um intervalo; mudança do clima; e escassez hídrica severa, pois o Pantanal não atinge mais a cota de cheia,” explicou.
Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, também presente na comitiva do governo federal em Mato Grosso do Sul, garantiu que haverá todos os recursos necessários para combater o fogo na região, incluindo orçamento extraordinário, se necessário.
“Orçamento não vai faltar, mas nenhum orçamento do Brasil e de organismos internacionais será suficiente se não tivermos uma campanha de conscientização e responsabilização pelos incêndios criminosos no Pantanal e em todos os biomas brasileiros”, reforçou.
Força-tarefa de combate aos incêndios
Atualmente, o combate aos incêndios no Pantanal conta com a atuação de 280 pessoas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Além do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 250 militares das Forças Armadas e 40 agentes da Força Nacional de Segurança Pública.
Foram disponibilizados seis helicópteros, dois aviões – incluindo o KC-390 Millennium – e embarcações cedidas pelo Ministério da Defesa, além de quatro aeronaves Air Tractor do Ibama e 27 viaturas do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O Corpo de Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul também contribui com 169 homens, dois helicópteros da Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo e outra aeronave Air Tractor do estado.
“A mão humana pode fazer muita coisa boa, como estamos fazendo aqui, mas também muitas coisas indesejáveis, como queimar um bioma único como o Pantanal”, enfatizou Marina Silva.
Comando operacional
O Ministério da Defesa estabeleceu o Comando Operacional Conjunto Pantanal II, liderado pelo general do Exército Luiz Fernando Estorrilho Baganha, com base no 6º Distrito Naval, no município de Ladário.
A operação atuará em integração com a Polícia Federal e a Polícia Militar Ambiental, focando inicialmente em áreas de interesse da União, como terras indígenas, terrenos de Marinha e áreas militarizadas, sem prejuízo do auxílio ao estado do Mato Grosso do Sul em áreas particulares.
“Nosso foco principal são áreas de interesse da União, mas também estamos prontos para auxiliar o estado do Mato Grosso do Sul em áreas particulares”, informou o superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul, delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo.