O La Niña – fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico – tem probabilidade de mais de 70% de se instalar entre novembro e dezembro de 2024, trazendo clima mais seco e frio para o Brasil.
Os dados são da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), que teve sua previsão analisada trazendo os principais impactos à produção agropecuária no Boletim do Mercado em Foco de novembro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), divulgado nesta quinta-feira (12).
La Niña e impactos no agronegócio
As previsões climáticas indicam intensidade fraca para o La Niña. Ainda assim, as atividades agrícolas e pecuárias devem ser influenciadas, mas com impactos negativos menos severos.
O La Niña esperado para este ano começou a aparecer nas previsões no final do ano passado. No entanto, as probabilidades ainda eram baixas. O fenômeno ficou mais evidente e o percentual de probabilidade para o 2º semestre foi aumentando até o mês de março, quando começaram a perder força.
Em novembro, a probabilidade do evento climático se efetivar no trimestre de nov-dez-jan é de 75%. Já para o trimestre dezembro/janeiro/fevereiro, a probabilidade cai para 71%.
Os efeitos nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil são chuvas acima da média, no Centro-Oeste, há possibilidade de atraso ou irregularidade das chuvas de primavera e no Sul induz períodos de seca.
Histórico do La Ninã no Brasil
As últimas safras com influência do La Niña no Brasil foram em 2020/21, 2021/22 e 2022/23, onde a falta de chuvas que se arrastou por dois anos consecutivos e as geadas prejudicaram fortemente o café. Houve quebras de safras de grãos no Sul em função da seca.
Regiões, atividades agropecuárias e efeitos positivos ou negativos
Soja, Milho e Feijão
Neste ano, a principal preocupação é a redução das chuvas no Sul, já que no última temporada sob efeitos de La Niña as produtividades de soja, milho e feijão foram reduzidas. O início do plantio em setembro/novembro depende das chuvas e sua continuidade é crucial para o bom desenvolvimento das lavouras em dezembro/fevereiro.
O atraso ou a má distribuição dos volumes nesses períodos podem comprometer a janela de semeadura e a produtividade das lavouras.
Trigo, Arroz e Aveia
Se por um lado a redução das chuvas prejudica os grãos, por outro, traz alívios para o arroz e trigo no Sul. Menores precipitações entre setembro/novembro, ajuda no plantio de arroz e a baixa umidade contribui com a menor incidência de doenças fúngicas no trigo.
Café arábica
Em 21/22, a produção mineira sofreu uma grande quebra com falta de chuvas na fase de enchimento de grãos e geadas na época de colheita, que causou uma produtividade média mais baixa do que em anos de bienalidade negativa. Considerando o incremento anual médio de produtividade de 8%, sem problemas climáticos a produtividade deveria alcançar 35,2 scs/ha.
Cana-de-açúcar
A redução das precipitações na região Sudeste e possíveis atrasos nas chuvas no Centro-Oeste causam uma diminuição da produtividade média dessas áreas, que representam 86% da produção nacional. Além disso, o tempo seco aumenta o risco de queimadas nas regiões.
Bovinocultura de Leite
Na região Nordeste, o aumento da chuva contribui para a recuperação das pastagens, aumentando a disponibilidade de alimento para o gado e reduzindo o estresse térmico em com temperaturas mais amenas, o que pode aumentar a produção de leite.
Neutralidade ou La Niña em breve
A intensidade do La Niña é classificada com base nos desvios da temperatura média da superfície do Pacífico. Desvios entre -0,5°C e -0,9°C indicam uma classificação fraca, enquanto desvios de -1,0°C a -1,4°C são considerados moderados.
O período de neutralidade ainda persiste, sem a influência ativa de El Niño ou La Niña. No entanto, observa-se um resfriamento das águas do Oceano Pacífico.
Há dois cenários possíveis para os últimos meses de 2024 e o ano de 2025: No primeiro, o La Niña chega em meados novembro e início de dezembro, com intensidade fraca e duração até março de 2025; no segundo há um enfraquecimento das anomalias de temperatura das águas oceânicas e período de neutralidade se estendendo.
Como o La Niña pode se prolongar por mais de uma safra, seus impactos serão melhor compreendidos com o avanço das previsões climáticas, mas a incerteza da duração e intensidade pode influenciar a oferta, qualidade e preços dos produtos agropecuários.
Os produtores rurais precisam fazer o acompanhamento das previsões para o planejamento estratégico de suas atividades e para a redução de riscos.