A seca prolongada e o calor excessivo que predominaram em grande parte do Brasil até outubro deste ano, associados ao começo do período chuvoso, têm provocado mudanças na ocorrência de insetos-pragas que infestam as pastagens, como os ataques de lagartas.
Junto à adubação nitrogenada feita pelos produtores nesta época, esses fatores geram explosão populacional das lagartas desfolhadoras. É o que aponta artigo da pesquisadora da Embrapa Gado de Corte e entomologista, Fabrícia Zimermann Vilela Torres.
Infestação de lagartas em pastagens
Segundo Zimermann, são muitos os relatos de casos de ataque, com altas infestações de lagartas em pastagens.
“Não bastasse a diminuição da precipitação, que castigou nossos capins há alguns meses, a ocorrência de chuvas esporádicas, após um período quente e seco, favorece o ataque de lagartas que, em poucos dias, podem acabar totalmente com o pasto”, conta.
Em seu artigo, ela conta que as espécies de lagartas mais comuns em pastagens são a curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes) e a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) (Lepidoptera: Noctuidae).
Contudo, a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus) (Lepidoptera: Pyralidae) e a Helicoverpa (Helicoverpa sp.) (Lepidoptera: Noctuidae) também podem estar presentes.
Curuquerê
As lagartas têm hábito alimentar mastigador, sendo a curuquerê uma das mais comuns.
“Ela começa seu ataque com raspagem na face inferior das folhas jovens, em seguida corta as bordas, deixando as nervuras intactas. Tem comportamento tipo “mede-palmo” e não apresenta canibalismo, podendo ser encontradas mais de uma lagarta juntas”, explica.
Lagarta militar
Outra bastante comum em pastagens é a lagarta militar. Apesar de iniciar também raspando as folhas, à medida que se desenvolve, corta a partir do centro, deixando buracos nas folhas.
“A principal característica que a difere das outras lagartas é a presença de um Y invertido na cabeça. Em altas infestações possui comportamento de canibalismo, sendo raramente vistas juntas”, aponta.
Elasmo e Helicoverpa
É possível ainda encontrar em pastagens a lagarta elasmo e a helicoverpa.
“A primeira é conhecida por sua perfuração no colmo, o que causa o sintoma de “coração-morto”. Já a helicoverpa ataca as pastagens em frutificação, podendo se tornar um problema em área de produção de sementes, exigindo cuidado caso seja detectada”.
Controle
De acordo com a pesquisadora, o controle de lagartas em pastagens requer vistorias frequentes, sendo necessária maior atenção em áreas recém-formadas, recém-cortadas e após aplicação de fertilizantes nitrogenados, em clima quente e com chuvas espaçadas.
“Um dos aspectos mais importantes a se observar é que as medidas de controle devem ser tomadas em focos iniciais, até o 3º instar de desenvolvimentos das lagartas. Uma lagarta grande, já em fase final de desenvolvimento, chega a comer 80% do que comeria em toda sua vida”, aponta.
Para o controle ser mais eficiente, seja ele biológico ou químico, o limite para sua realização, segundo Zimmermann, é quando o dano perceptível ainda é a raspagem das folhas, ou seja, quando as lagartas estão bem pequenas, sendo difícil até de encontrá-las sem uma observação criteriosa da planta.
Ela afirma que para não perder o momento correto de controle, o acompanhamento da área pode ser feito monitorando as mariposas. É possível fazer isso visitando a área para visualizar as mariposas voando sobre as folhas, ou utilizando armadilhas luminosas ou de feromônios, que atraem e aprisionam as mariposas.
Defensivo
Uma vez identificada a presença na área, será possível se preparar para aquisição do produto escolhido para controle e efetuar a pulverização em lagartas ainda bem jovens, tendo um intervalo para essa preparação de dois a três semanas após a captura de adultos.
“Para o controle pode-se fazer uso de inseticida microbiano à base de Bacillus thuringiensis, que possui diversas marcas comerciais disponíveis, ou de inseticidas químicos. No caso destes últimos, existem apenas dois produtos registrados para controle de lagartas em pastagens, sendo estes a base de lambda-cialotrina e bifentrina + zeta-cipermetrina”, orienta.
Ainda sobre os químicos, deve-se atentar para a necessidade de retirada do gado da área pelo período recomendado pelo fabricante.
“O manejo de lagartas em pastagens não é novidade, mas muitas vezes não é eficiente devido à perda do momento ideal de controle, o que faz do monitoramento a principal ferramenta para evitar prejuízos decorrentes”, finaliza.