Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) mostrou que fornecer sombra artificial em sistema de confinamento de bovinos de corte, é capaz de aumentar a eficiência nutricional, melhora o bem-estar animal e reduzir as pegadas hídrica e da terra.
Foram avaliados três indicadores: pegada hídrica, pegada de uso da terra e eficiência do uso dos nutrientes nitrogênio (N) e fósforo (P).
Pesquisa de sombra em confinamento
As pegadas foram avaliadas em cenários agrícolas diferentes: soja no Paraná e São Paulo, e primeira e segunda safras de milho, também nesses dois estados. A avaliação é pioneira em relação ao impacto de um sistema de confinamento bovino, considerando as eficiências de água, terra e nutrientes e as sinergias entre os três indicadores.
De acordo com o pesquisador Julio Palhares, o impacto das mudanças climáticas, com aumento de temperatura e de eventos climáticos extremos mais frequentes, terá consequências negativas também no desempenho da pecuária de corte.
“A repercussão desses fenômenos climáticos nos bovinos se estende a consumo de alimentos, padrões comportamentais, uso de água e eficiência para converter nutrientes em carne. Por isso, é importante uma gestão responsável e utilização de tecnologias para mitigar esses efeitos e melhorar a gestão ambiental”, destaca Palhares.
A tecnologia reduz o estresse térmico e proporcionem mais conforto climático aos bovinos, aumentando a eficiência no uso de recursos pela pecuária de corte.
- Do campo à mesa: O caminho da sustentabilidade na pecuária de corte
O experimento
A pesquisa foi conduzida no Confinamento da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), de setembro a dezembro de 2019. Participaram 48 touros da raça Nelore, divididos em dois grupos, um com sombra e outro a pleno sol. O material utilizado para ofertar sombra foi uma malha de alumínio termorreflexiva, que proporciona de 78% a 83% de sombra e 32% de transmissão de luz difusa.
Os animais foram separados em quatro áreas com 12 touros cada, por 85 dias. Os primeiros 11 foram para adaptação, seguidos das fases de crescimento e terminação.
A dieta foi composta por bagaço de cana, soja, milho e mistura mineral, com valores baseados na matéria seca. Para mensurar o consumo de ração e água, foram utilizados cochos eletrônicos e bebedouros eletrônicos.
O cálculo para a pegada hídrica considerou a água consumida na produção de alimentos (água verde) e a consumida pelos animais (água azul).
Para o cálculo da água verde foram considerados oito cenários, em duas cidades e quatro sequências de culturas. A pegada da soja e do milho foram calculadas também em Pradópolis (SP) e Maringá (PR). No caso do milho foram avaliadas a 1ª safra e 2ª safra.
O balanço parcial de nutrientes no sistema de produção foi avaliado para nitrogênio (N) e fósforo (P). Foi calculada a eficiência de uso de N e de P. A pegada foi calculada como a razão entre a área de terreno (m²) necessária para produzir a ração e as produtividades das culturas.
Resultados
Os animais que tiveram acesso à sombra demonstraram melhores eficiências de água, nutrientes e terra em comparação aos animais a pleno sol. Os animais sem acesso à área sombreada consumiram mais água do que os com acesso à sombra.
Em média, as pegadas hídrica e terrestre no tratamento com sombra foram 3% e 7% menores, respectivamente, do que no sem sombreamento. Esses resultados indicam que proporcionar práticas de bem-estar, além de promover melhor conforto térmico aos animais, traz impactos ambientais positivos em termos do uso eficiente de recursos naturais e insumos.