O Brasil é o segundo maior produtor e líder de exportação de carne bovina no mundo, faturando quase R$1 bilhão em toda a cadeia produtiva, desde a nutrição até genética e vendas. Grande parte da proteína global, sai das propriedades brasileiras e a pecuária de corte nacional é considerada a mais sustentável do planeta.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou que o Brasil deve produzir 10,65 milhões de toneladas de carne bovina em 2023, levando segurança alimentar para cerca de 1 bilhão de pessoas e mostrando que o pecuarista brasileiro produz de forma consciente e é fundamental para a sociedade.
Em todo o país, o rebanho de corte é de cerca de 200 milhões de cabeças, animais principalmente das raças zebuínas, como a nelore. O Estado de Goiás, no coração do Brasil, ocupa a quarta colocação no ranking da produção de carne bovina, onde 793 mil toneladas da proteína animal vêm das propriedades goianas.
Essa produtividade é resultado dos três pilares do negócio sustentável: economia, social e ambiental, trabalhando o melhoramento genético, investindo em pastagens e produção de ração, além do bem-estar animal, reaproveitamento de resíduos e gestão de custos, recursos hídricos e florestais.
Pecuária Sustentável: economia
Exemplo de sustentabilidade é a Vera Cruz Agropecuária, empresa do Grupo Otávio Lage, com sede no município de Goianésia, no centro goiano, que atua na pecuária de corte com confinamento que engorda de 30 a 35 mil animais da raça nelore, no ciclo de abril a dezembro/janeiro.
A empresa foi criada em 1979 e conta com outras propriedades, no norte de Goiás e sul do Tocantins, que trabalham a genética na cria de bezerros e recria de garrotes, além da comercialização do melhoramento para outras propriedades.
Para rodar o ano inteiro, a empresa investe na produção de soja na safra de verão em 4,6 mil hectares e comercializa para esmagadoras. Além disso, plantam mais 1 milhão e 700 mil seringueiras, para extração de látex, que é vendido à Michelin.
A propriedade produz na safrinha parte do milho e sorgo usado na ração e compra o restante de terceiros, beneficiando na própria fábrica, além de oferecer torta de algodão, bagaço de cana, milho, sorgo e nutrientes complementares. E ainda transforma em volumoso o reaproveitamento de palha, grãos e sabugo de agricultores vizinhos que cultivam milho.
“Na sede do confinamento, fazemos a safra do boi, com a Integração Lavoura-Pecuária, antes de colher a soja a gente planta capim braquiária e variedades, e assim que o pasto forma, entramos com o gado que compramos de 8 a 10 arrobas para fazer a recria nessas áreas na época das águas e a medida que os pastos vão ficando ruins, levamos para a terminação em confinamento”, explica Rodrigo Mendes, diretor da Vera Cruz Agropecuária.
Os animais que entram com 13 arrobas no confinamento, passam de 90 a 105 dias na engorda, com dieta diversificada, sanidade e bem-estar animal controladas por equipes de agrônomos, médicos-veterinários e técnicos, além da inteligência artificial, com uso de drone que faz a leitura de cocho e percebe o comportamento dos animais, se eles têm todo subsídio, comida e água limpa, que garante conforto e melhor performance.
O resultado são 9 mil toneladas de carne bovina produzidas por ano. Animais de até 30 meses, que são comercializados para abate dentro de Goiás, nas unidades da JBS. Além disso, toda a gestão de risco é sustentada com operação de trava de preços na bolsa de valores.
Pecuária Sustentável: ambiental
Nas propriedades da agropecuária, o animal é rastreado desde o nascimento até o envio para o abate do frigorífico, ou seja, o cliente consegue acompanhar todo o processo produtivo do parto à carne do prato.
A empresa ainda trabalha com o ciclo de gestão de resíduos, o confinamento de gado gera em torno de 18,9 mil toneladas de dejetos, que são tirados dos cochos e levados para uma área de compostagem, onde são transformados em adubo biológico, que é usado para fertilizar as lavouras, as pastagens e os seringais. Com a redução de uso químicos, além de preservar o meio ambiente, o composto gera uma economia de R$840,00 por hectare.
“Além disso, temos próximo ao confinamento uma área de placas solares instaladas no chão e no telhado da nossa fábrica de ração. Energia solar, que gera tudo que precisamos no confinamento, no funcionamento da agropecuária e nas empresas do grupo”, salienta Rodrigo.
Dentro da propriedade, a Área de Preservação Permanente e Reserva Legal são cercadas, além do que, são realizadas ações de reflorestamento na região.
Pecuária Sustentável: social
Com todo o trabalho econômico e ambiental, a empresa tem forte atuação no âmbito social, gerando cerca de 800 empregos, incluindo nos seringais onde todo o trabalho é manual. Os colaboradores moram em casas e vilas construídas nas propriedades com água, energia e internet. Além disso, tem amplo apoio para o desenvolvimento profissional com programa de bolsa de estudos.
Os investimentos em pessoas fez o grupo de empresas ser reconhecido há 4 anos como uma das melhores do agronegócio para se trabalhar. O resultado é percebido na construção de carreira dos colaboradores, que sobem de função e até conseguem cargos de chefia, como é o caso de Rodrigo Mendes, que trabalha há 32 anos na agropecuária.
“A empresa contribui mensalmente para entidades filantrópicas. Tem a Fundação com a escola para filhos de funcionários da empresa até o 9º ano, com boa parte dos recursos mantidos pelo grupo. Há 16 anos também, há um concurso de redação para alunos com premiação de bolsa de estudos de R$35 mil reais”, finaliza.
Pecuária de corte: solução sustentável
Os pecuaristas são peças-chave para garantir a segurança alimentar de mãos dadas com a sustentabilidade e a pecuária de corte faz parte da solução. Segundo o pesquisador Luiz Orcírio Oliveira, da Embrapa Gado de Corte, cerca de 85% do setor é extensivo a pasto e 15% em confinamento, graças ao clima tropical com muita chuva, que favorece o crescimento das pastagens.
“Nosso modelo de pecuária tem intensificado o manejo das pastagens, com adubação, divisão de piquetes, rotação e também processos de Integração de Lavoura-Pecuária, que proporcionam pastagens melhoradas unindo o sistema: pasto na safrinha, confinamento e semiconfinamento, sendo mais rápido engordar e abater animais jovens, que vem ao encontro da sustentabilidade”, analisa.
Orcírio lembra que a combinação da criação do boi ideal é alimentar bem os bezerros, alcançar o maior peso na recria com as forragens verdes no verão que emitem menos metano, que captam mais CO2 para o solo e reciclam, dependendo menos do período da engorda na seca em confinamento.
“Quando você tem área de pastagens, a água da chuva é infiltrada e vai para o lençol freático, o que equilibra o processo. Toda a água que é consumida pelos animais na pecuária, boa parte dela recicla através dos seus próprios dejetos, que são aproveitados por vários produtores para adubação da forragem dos animais, produção de energia por biogás. Além disso, a água que fica na carne bovina alimenta e hidrata”, afirma.
O pesquisador reforça o papel dos pecuaristas como guardiões de florestas e nascentes, já que 80% da vegetação nativa brasileira preservada, está em áreas de iniciativa privada, ou seja, a preservação acontece dentro das propriedades rurais.
“Os pecuaristas sempre se preocuparam com as nascentes, as matas nativas, com o bem-estar animal, manutenção de árvores para sombra, que está no cerne da pecuária. A extrema maioria são de produtores que cuidam”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a demanda por proteína animal no mundo vai aumentar 70% até 2050 e, caminhando com a tecnologia, a pecuária de corte brasileira pode dobrar a produção de carne com responsabilidade econômica, ambiental e social.