Pesquisadores de diversas instituições vêm apresentando cultivares com maior resistência à podridão de grãos e fungicidas são opções de manejo para reduzir as perdas de produtividade, apontam redes de pesquisa que estudam o tema.
O problema foi chamado inicialmente de anomalia da soja, que vem ocorrendo com maior frequência, na região do médio-norte do estado de Mato Grosso e em Rondônia, desde a safra 2018/2019.
Fungicidas e cultivares para combater podridão de grãos
Diferentes espécies de fungos foram identificadas em vagens e hastes com e sem sintomas de apodrecimento de grãos, mas os fatores que desencadeiam o problema ainda são desconhecidos. Por isso, redes de pesquisa estão analisando dados como clima, fertilidade e física do solo, teor de lignina e outros que possam dar pistas sobre a doença.
A rede que avalia a eficiência dos fungicidas traz os primeiros resultados que poderão auxiliar nas estratégias de manejo da doença, com o lançamento de uma publicação sobre o assunto.
- Seca x Soja: Veja como reduzir os impactos na safra da cultura
Publicação sobre fungicidas para controle da podridão
A publicação é a Eficiência de fungicidas para o controle da podridão de grãos da soja, na safra 2022/2023: resultados dos ensaios cooperativos (Circular Técnica 197). A rede de pesquisa que avaliou fungicidas é formada pela Embrapa, Fundação MT, Fundação Rio Verde, Proteplan, Fitolab Pesquisa e Desenvolvimento Agrícola, Centro de Pesquisa Celeiro do Norte (CPCEN), EPR Consultoria & Pesquisa Agronômica, MZ Consultoria Agronômica, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT-Sinop), Universidade Federal de Rondônia e Solo Fértil.
Outro grupo avaliou a reação à podridão de 54 cultivares de soja (42 transgênicas e 12 convencionais) e identificou cultivares com bom e médio nível de resistência e as que são suscetíveis ao problema.
A podridão dos grãos de soja
Desde a safra 2018/2019, o problema vem causando prejuízos aos produtores, de Mato Grosso e de Rondônia, o que levou à formação da pesquisa para identificar as causas do problema e definir estratégias de manejo.
Os sintomas descritos inicialmente como anomalia correspondem principalmente à podridão dos grãos e das vagens. Diversas amostras foram coletadas nas quais foram encontradas, nas vagens, grãos e hastes, um complexo de fungos de diferentes espécies de Fusarium, Diaporthe e Colletotrichum. Em algumas safras, também observaram alta incidência de mancha-púrpura nos grãos, causada por Cercospora spp.
Esses fungos podem ser encontrados de forma latente na planta e nos grãos, (fungos endofíticos), sem causar sintomas aparentes: cada um associado a uma doença. Eles foram identificados mesmo em vagens e grãos sem sintomas.
A pesquisadora explica ainda que, no início dos sintomas, as vagens podem apresentar encharcamento, escurecimento ou ambos, sem abertura visível. Quando abertas, apresentam apodrecimento dos grãos. A presença de vagens com sintomas e os grãos apodrecidos ocorrem de forma aleatória na planta e na vagem, respectivamente, não necessariamente acometendo todos os grãos.
Os sintomas ocorrem principalmente a partir do enchimento de grãos (estádio R5), até sua maturação (estádio R8). As condições de estresse relacionadas ao clima estimulam que os fungos latentes iniciem a infecção. Os fatores que desencadeiam a maior frequência de apodrecimento de grãos por esses patógenos nessas regiões ainda estão em estudo.
Avaliação de Fungicidas
Para avaliar a eficiência de fungicidas, os experimentos avaliaram individualmente e em aplicações sequenciais. Durante a safra 2022/23, a pulverização de diferentes fungicidas, nos ensaios realizados em rede, tiveram como resultado a redução dos sintomas da doença e o aumento de produtividade.
O uso de fungicidas favorece tanto a redução da incidência de sintomas da podridão, quanto o controle de outras doenças, como a mancha-alvo – predomina na região – o que reflete em melhoria de produtividade. Entendemos que os fungicidas são uma relevante ferramenta de controle, devendo ser definido, de acordo com a sensibilidade das cultivares à podridão de grãos e a outras doenças.
Além do uso de fungicidas no manejo da doença, os pesquisadores orientam a adoção de diferentes estratégias antirresistência. Eles defendem, por exemplo, que as informações obtidas nesses estudos ajudem a determinar programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação.
Avaliação de cultivares
Há cerca de um ano, a rede de avaliação de cultivares, formada por 12 institutos de pesquisa, universidades, cooperativas e fundações, busca compreender o impacto da escolha de cultivares no manejo da podridão de grãos.
A rede avaliou 54 cultivares de soja e ainda realizou experimentos em três épocas de plantio. As cultivares foram caracterizadas quanto à reação a podridão: as que apresentavam bons níveis de resistência, médios níveis e as que são suscetíveis. Com essas informações, os produtores terão ainda mais subsídios para o seu planejamento, frente ao enfrentamento do problema.