A cultivar de arroz de terras altas BRS A502 tem sido inserida em cultivo intensivo e integrado com outras culturas como soja, milho e feijão sob irrigação na Região do Cerrado. O material lançado em 2020, pela Embrapa Arroz e Feijão se mostra uma alternativa para impulsionar a oferta do grão produzido no Brasil.
Essa expansão do cereal para o centro do Brasil permite abastecer melhor o mercado nacional, que hoje é suprido pelas lavouras da Região Sul, onde se colhe 80% do arroz consumido pelos brasileiros.
Cultivar de arroz no Cerrado
O Brasil hoje produz em média de 10 milhões de toneladas em cada safra, mas consome quase tudo que colhe, sendo a balança apertada. Expandir a produção significa ainda possibilidade de exportação.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão em Goiás e um dos coordenadores do programa de melhoramento de plantas de arroz, Adriano Castro, a BRS A502 possui características que estão contribuindo para a sua inserção em rotação de culturas.
Os resultados da pesquisa trouxeram perspectivas diferentes para o cultivo no Cerrado do Brasil Central, nos últimos três anos. O cereal vem sendo incorporado a áreas de rotação de culturas irrigadas sob pivô central em propriedades localizadas em Unaí e Paracatu (MG), Cristalina, Rio Verde, Jataí, Santa Helena e Pires do Rio (GO); e no Distrito Federal (DF).
O grão é uma alternativa à soja e ao milho durante a safra de verão e em safrinha, antecedendo as lavouras de inverno, quando, comumente, há o plantio de feijão e trigo.
Resistência ao acamamento
Geralmente, em ambientes de cultivo integrado com solos corrigidos e de alta fertilidade, o arroz fica mais propenso a acamar – quando a planta deita no solo por causa do peso dos grãos. Contudo, a BRS A502 possui resistência ao acamamento, desde que tenha o manejo adequado da lavoura, que propicia sua introdução em áreas irrigadas sob pivô central.
Essa característica é fundamental para obter um produto de boa qualidade comercial e industrial. Segundo o pesquisador, a BRS A502 é uma uma das ferramentas para aprimorar a eficiência da produção e melhorar resultados financeiros, no lucro por hectare.
Cuidado com o solo
O engenheiro agrônomo e produtor rural, William Matté, cultivou a BRS A502 em Cristalina-GO, em sucessão de cultivos, que incluem soja, milho, feijão, trigo e girassol. Ele observa que o arroz de terras altas sob pivô central é uma opção para obter lucro pela soma total das atividades produtivas durante o ano e não apenas por um determinado cultivo ou safra.
Segundo ele, se o agricultor cuidar dos pilares químicos, físicos e biológicos do solo, dá para ter mais rentabilidade líquida por hectare, mostrando que o sistema com arroz é viável, que traz remuneração estável, permitindo não só produzir mais, mas também dar estabilidade de produção e participar de tempos diferentes do mercado.
Os benefícios da sucessão de culturas com a rotação entre mix de plantas de cobertura favorecem o solo, por exemplo, pela infiltração de água, ciclagem de nutrientes e diminuição da infestação de doenças.
Perspectiva para indústrias
O corretor de comercialização de grãos, Garibaldi Devoti, explica que o arroz deixa em torno de 100 a 120 sacos por hectare para o produtor e permite fazer rotação e produzir palhada (plantio direto) para a cultura do feijão. O arroz quebra praticamente todos os ciclos de doenças de solo e, com isso, é obtida alta produtividade no feijão.
Sob a perspectiva da indústria, a BRS A502 é atrativa, permitindo obter boa qualidade de grãos, entregando para a indústria um grão de 68%, 69%, de inteiro com 74% de renda, o que é algo excelente no mercado. Ele acredita que a medida que a oferta desse arroz tiver com mais volume, será muito significativo para as indústrias do Centro-Oeste, onde está localizada a maior quantidade de pivô central.
Cerrado complementa abastecimento nacional de arroz
O arroz de terras altas produzido sob pivô central é encarado como uma alternativa complementar ao abastecimento interno do Brasil, podendo atuar como regulador de preços e fornecedor de matéria-prima para indústrias locais com redução do frete.
Também pode permitir a aproximação da produção e de localidades consumidoras, além de ajudar a constituir uma base de segurança alimentar à população. Veja o artigo “Arroz em sistemas sustentáveis sob pivô central”, de autoria de especialistas da Embrapa Arroz e Feijão.