A primeira ocorrência da planta daninha picão-preto (Bidens subalternans) resistente ao herbicida glifosato no Brasil, na safra 2022/2023, foi identificada. A dificuldade de controle foi relatada à Embrapa Soja por técnicos da Coamo Agroindustrial Cooperativa, que observaram a sobrevivência de uma população dessa espécie, no município de Juranda (PR).
Segundo os pesquisadores, mesmo após aplicações sequenciais de glifosato, nas doses recomendadas, e executadas corretamente, o produto não controlou as plantas de picão-preto em lavouras de soja.
Planta daninha picão-preto resistente ao glifosato
Um grupo de técnicos da Coamo e pesquisadores da Embrapa iniciou os estudos de comprovação da resistência em condições controladas. Primeiro, foram coletadas plantas sobreviventes na área, que foram avaliadas, em análises de amostras de sementes e plantas de populações de picão-preto, também com suspeita de resistência ao glifosato, vindas de outras propriedades, assistidas pela cooperativa.
Foram conduzidos trabalhos de manejo da população de plantas daninhas, tanto em casa de vegetação quanto no campo, os resultados estão na publicação Novo caso de resistência de planta daninha ao glifosato no Brasil: picão-preto (Bidens subalternans).
Casos de resistência do picão-preto
Em 2018, uma equipe de pesquisadores da Embrapa Soja e da Universidade Estadual de Maringá identificou no Paraguai, o primeiro, e até então o único, caso de resistência dessa espécie ao glifosato no mundo. Agora o Paraguai e o Brasil têm relatos de ocorrência de picão-preto resistente ao glifosato.
A Embrapa e as cooperativas Coamo e Lar estão elaborando ações de monitoramento, manejo, mitigação e contenção da população de picão-preto resistente. Estão sendo planejados estudos para a determinação de qual é o mecanismo de resistência ao glifosato dessa população e se existe resistência múltipla a outros herbicidas. Esses estudos estão sendo feitos em parceria com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e com a Pennsylvania State University (PSU), dos Estados Unidos.

Picão-preto
O picão-preto é uma planta daninha de ocorrência no Brasil, com predominância de duas principais espécies: Bidens pilosa e Bidens subalternans. Por serem muito semelhantes e geralmente estarem presentes simultaneamente em áreas de cultivo, os produtores não fazem a diferenciação das espécies, denominando toda a população como picão-preto.
Apesar da identificação da resistência de Bidens subalternans ao glifosato, populações de picão-preto já haviam sido identificadas como resistentes a outros herbicidas na década de 1990.
Resistência de plantas daninhas a químicos no Brasil
No Brasil, atualmente, os produtores vivem uma segunda etapa das plantas daninhas resistentes ao herbicida glifosato. Esse processo de resistência está relacionado ao uso constante do mesmo princípio ativo, na mesma área, e por longo período de tempo, segundo explica pesquisador da Embrapa, Fernando Adegas.
O uso intensivo do glifosato acarretou grande pressão de seleção sobre as plantas daninhas, resultando na seleção de 12 espécies resistentes: azevém, três espécies de buva, capim-amargoso, caruru-palmeri, caruru-gigante, capim-branco, capim-pé-de-galinha, leiteiro, o capim-arroz e agora o picão-preto.

Custos de produção
Estudo realizado pela Embrapa avaliou que os custos de produção em lavouras de soja com plantas daninhas resistentes ao glifosato podem subir, em média, de 42% a 222%, principalmente pelo aumento de gastos com herbicidas e pela perda de produtividade da soja. Os valores sobem, em média, entre 42% e 48%, para as infestações isoladas de buva e de azevém, respectivamente, e até 165%, se houver capim-amargoso resistente. Em casos de infestações mistas de buva e capim-amargoso, por exemplo, o aumento médio é de 222%.
Como prevenir a seleção de plantas resistentes
O pesquisador da Embrapa Soja destaca a compra de sementes livres de infestantes; a limpeza de máquinas e equipamentos, especialmente as colheitadeiras e a manutenção de beiras de estrada, carreadores e terraços livres de infestantes. No controle mecânico, a indicação é pelas capinas e roçadas. No controle químico, a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação.
Nos métodos culturais, são recomendados a diminuição dos períodos de pousio, o investimento em produção de palhada para cobertura do solo e a utilização de cultivares adaptadas em espaçamento entre linhas, além da rotação de culturas.
O estudo foi realizado seguindo o protocolo para relato de casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas, proposto pelo Comitê de Resistência da Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (SBCPD) e aprovado pelos Comitê de Ação de Resistência aos Herbicidas do Brasil (HRAC-BR) e Internacional (IRAC).