Dois novos estudos do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) devem fortalecer a produção de batata no país, voltada tanto ao consumo in natura quanto ao uso industrial.
Com base em análises desenvolvidas pela Embrapa, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou as portarias que orientam o setor produtivo sobre as regiões com melhores condições para o cultivo, levando em conta as exigências específicas do mercado de mesa e da indústria de transformação.
Produção de batata

A distinção entre os dois usos principais está relacionada à duração do ciclo da planta, do plantio até a colheita, o que influencia diretamente na produtividade e na qualidade. Para atender ao mercado fresco, a colheita ocorre por volta dos 90 dias, priorizando a aparência do tubérculo.
Já no caso da batata destinada à indústria, o ciclo é estendido para entre 120 e 130 dias, garantindo características como maior teor de matéria seca e menor concentração de açúcares.
“A batata para o mercado fresco é interrompida em torno de 90 dias porque a intenção é que apresente aparência, com pele lisa, para agradar o mercado. E para a indústria é necessário deixar crescer bastante e completar o ciclo de maturidade, que é quando atinge o máximo de matéria seca e o mínimo de açúcar. Essas são as qualidades intrínsecas para dar um produto de boa qualidade, como crocância e cor clara. Nesse caso, não importa que a pele fique mais áspera”, explica Arione Pereira, pesquisador da Embrapa responsável pelo Programa de Melhoramento Genético de Batata.
O Zarc elaborado para a batata não se baseia em cultivares específicas, mas sim nas práticas comuns de produção, que são semelhantes em muitas regiões brasileiras.
O manejo, que muitas vezes antecipa a colheita em função de demandas específicas, minimiza a relevância das variações entre cultivares quanto à duração do ciclo.
“O zoneamento não considerou diferenças entre as cultivares em função do ciclo da cultura ser definido pelo manejo no sistema de produção”, destaca Carlos Reisser Júnior, pesquisador da Embrapa Clima Temperado (RS) e um dos responsáveis pelo estudo.
Clima como fator determinante no risco produtivo

A cultura da batata é particularmente sensível a extremos climáticos, como temperaturas muito altas ou muito baixas, além de chuvas inadequadas. A falta de precipitação pode ser compensada por irrigação, mas o excesso de água pode causar encharcamento e favorecer doenças em plantas e tubérculos, afetando severamente a produtividade.
Outros elementos do clima também impactam o cultivo, como baixa radiação solar, ocorrência de geadas e granizo. O estudo também incorpora variáveis como qualidade do solo, altitude e estimativa de produtividade local para definir o risco de perda.
As novas portarias substituem os antigos zoneamentos estaduais e apresentam agora resultados organizados por município, acessíveis por meio da plataforma Painel de Indicação de Riscos do Mapa ou pelo aplicativo Zarc Plantio Certo, criado pela Embrapa Agricultura Digital (SP).
Essa abordagem nacional padronizada permite identificar áreas com potencial produtivo que antes não eram consideradas, como algumas regiões elevadas da Bahia. Embora essas localidades não sejam tradicionais no cultivo da batata, apresentam níveis de risco compatíveis com os critérios dos programas de seguro rural (PSR) e Proagro.
Na prática, produtores podem consultar o sistema selecionando o município e obtendo as datas recomendadas para plantio, conforme o nível de risco (20%, 30% ou 40%). O cálculo leva em conta a finalidade da produção, além de características como tipo de solo e altitude, e indica menor risco em áreas com irrigação onde a precipitação natural é baixa.