Na última terça-feira (13/6), a agricultura praticada por povos tradicionais de Minas Gerais na coleta das flores sempre-vivas foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do estado.
Através dessa prática agrícola que engloba técnicas ancestrais de manejo do meio ambiente, a comunidade em torno da Serra do Espinhaço gera a própria renda e garante a segurança alimentar de suas famílias.
Técnica de cultivo das sempre-vivas se torna patrimônio imaterial de MG
A aprovação do título de patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais ocorreu durante a reunião ordinária do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep).
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Em nota, a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Marília Palhares, ressalta que o reconhecimento contribui significativamente para a preservação dos conhecimentos tradicionais.
“São sábios, pois são várias comunidades que trabalham diretamente com seus territórios, o cuidado com os animais, o respeito às estações do ano, mudam a transumância e não utilizam produtos químicos”, finaliza.
O cultivo

A transumância é uma prática essencial para as comunidades da Serra do Espinhaço, envolvendo o deslocamento de famílias das áreas baixas, onde vivem e cultivam alimentos, para regiões mais altas, onde se abrigam em abrigos naturais e ranchos durante o manejo da flora nativa.
Além disso, sua coleta está integrada a um sistema que engloba outras atividades econômicas como o cultivo de lavouras e a criação de animais.
As flores sempre-vivas receberam esse nome devido à sua capacidade de resistência ao longo do tempo, mantendo sua forma e cor mesmo após serem colhidas.
Elas são muito utilizadas na confecção de buquês de flores e na decoração de eventos.
No Brasil, essas flores são características do bioma cerrado, e a Serra do Espinhaço abriga cerca de 80% das espécies encontradas. Os campos onde as flores crescem estão localizados em altitudes de aproximadamente 1,4 mil metros.
Reconhecimento internacional

No mês passado, em uma cerimônia realizada em Roma, na Itália, os “apanhadores” de flores, como são conhecidos, obtiveram, também, o selo de Sistema Agrícola Tradicional de Importância Mundial (Sipam), concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).
O sistema agrícola de Minas Gerais é o único do Brasil a receber o selo. Na América Latina, existem apenas mais seis casos com esse reconhecimento: um no Chile, um no Peru, duas no Equador e duas no México.
O selo foi criado em 2002 como forma de preservar e reconhecer práticas agrícolas mundiais que cuidam do meio ambiente, através da cultura local.