As importações brasileiras de derivados lácteos seguem elevadas, alcançando 2,25 bilhões de litros em equivalente leite comprados no ano de 2023, expressivo aumento de 68,8% em relação a 2022, sendo este o maior resultado da série histórica iniciada em 2000.
Pelo terceiro mês consecutivo, o Brasil comprou mais desses produtos e fechou dezembro do ano passado com o maior volume desde setembro de 2016, chegando a 226,2 milhões de litros adquiridos, 10,46% a mais que em novembro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), divulgados no Boletim do Leite de janeiro do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Importações brasileiras de lácteos
No acumulado do ano passado, o principal derivado lácteo adquirido pelo país foi o leite em pó, com forte avanço de 83,4% sobre o balanço de 2022. O leite modificado foi a única categoria com baixa na quantidade importada.
Em dezembro, o destaque também foi o leite em pó, com participação de 81,9% no total de produtos lácteos importados pelos brasileiros. Quanto aos queijos, o volume adquirido diminuiu 15,7% no comparativo mensal, mas ainda é 89% maior que o de dezembro de 2022. As compras da manteiga avançaram 40% entre novembro e dezembro.
A maior parte do leite importado em 2023 era de origem argentina e uruguaia, países do Mercosul cujas operações são isentas da Tarifa Externa Comum (TEC). Foi o segundo ano seguido de alta na aquisição externa de lácteos, principalmente com origem nos dois países.
Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a Argentina foi líder nas remessas ao Brasil, com 45,5% no total de produtos lácteos importados pelos brasileiros no ano passado, alta de 40% em relação ao ano anterior. De outro lado, as vendas de lácteos do Uruguai ao Brasil aumentaram 87,7% no período, com participação de 41,5%.
São Paulo foi quem mais importou lácteos em 2023 com 26,8% do total, um desembolso de 229 milhões de dólares, quantia 64,8% maior que em 2022. Santa Catarina ficou na segunda posição, somando 168 milhões de dólares, alta de 54,9% e participação de 19,7%.
Mercado
Algumas hipóteses do mercado, divulgadas pelo Portal Milk Point, indicam os motivos do aumento nas importações de lácteos em 2023:
- Altas expectativas do setor sobre o cenário de crescimento econômico e demanda num novo governo Lula: O novo governo Lula, que normalmente toma medidas para a ativação da economia e do consumo, gerou expectativas de grande aumento de consumo no início deste ano. Os preços elevados dos lácteos na ponta final trataram de ‘jogar água fria’ no consumo no início de 2023.
- Tempo entre contratar as importações e a chegada dos volumes ao mercado brasileiro: os traders e empresas importadoras mencionam de 45 dias a 2 meses entre fechar o negócio e os volumes efetivamente chegarem ao comprador. Nos últimos meses de 2023, este tempo pode ter sido até maior de quase de 3 meses, com maiores dificuldades de obtenção de LI’s (Licenças de Importação) e pela burocracia da entrada de produtos, num ambiente de mercado no qual produtores e muitas indústrias já começavam a reclamar contra os produtos importados.
- Diferencial de preços do leite em pó industrial (LPI) entre o mercado brasileiro e o mercado internacional: pode ser o motivo que mais explica a alta de importações. A partir de março de 2022, o diferencial de preços do leite em pó industrial no mercado brasileiro e no mercado mundial cresceu muito, mesmo que os preços tenham se aproximado da média do Mercosul, o derivado em pó seguiu alto, estimulando aumento do volume importado.
Soluções para cadeia leiteira
Uma das soluções propostas pelo setor produtivo em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é regular a importação, criando gatilhos e barreiras para que seu exagero não destrua as cadeias produtivas organizadas existentes no Brasil.
Além disso, uma política entre governos da União e dos Estados para estimular a produção e o consumo, com redução da tributação; empréstimos federais ao produtor, combate às fraudes, criação de mercado futuro para commodities lácteas, manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo.
Outras medidas incluem aquisição subsidiada de tanques de resfriamento e outros equipamentos para pequenos e médios produtores; e o uso obrigatório de leite e derivados de origem nacional em programas sociais.
- Dia Mundial do Queijo: Cursos ensinam produção que agrega valor ao leite