O preço do leite cru captado por laticínios caiu 4,3% em outubro frente a setembro, chegando a R$ 1,9675/litro na Média Brasil. É o sexto mês consecutivo de queda e no acumulado de 2023, a desvalorização é de 24,8% e em relação a outubro de 2022 é de expressivos 30,4%.
É o que aponta o Boletim do Leite de dezembro, realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que mostra que o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira registrou alta de 0,6% na média de novembro, puxado pela valorização dos concentrados, adubos, corretivos e alguns medicamentos.
Custos pecuária de leite
Mesmo que no acumulado do ano, o COE apresente retração de 4,84%, a diminuição do preço do leite supera a desvalorização dos insumos no mesmo período e, com isso, estima-se que a margem bruta dos pecuaristas tenha recuado expressivos 69% no ano. De janeiro a novembro de 2023, a receita total das propriedades caiu 22% em média.
O aumento dos custos formado pelas bacias leiteiras de BA, GO, MG, SC, SP, PR e RS, está ligado ao encarecimento dos concentrados, principalmente pela alta no preço do milho. Em outubro, o produtor precisou de 30,1 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg do grão, 12,8% a mais que em setembro, acima da média dos últimos 12 meses, de 27,8 litros/saca, retomando os patamares mais elevados vistos no começo do ano.
No grupo de adubos e corretivos, instabilidades e incertezas quanto à disponibilidade desses insumos no mercado global explicam os aumentos. No caso dos medicamentos, a maior demanda sazonal por antibióticos e antimastíticos elevaram ligeiramente os valores médios em novembro.
Preço do leite pago ao produtor
Contudo, pesquisas do Cepea indicam que o movimento de queda no preço ao produtor pode ter chegado ao fim na maior parte das bacias leiteiras. Enquanto os valores do produto captado em novembro devem permanecer estáveis no Sudeste, no Sul, espera-se uma virada na tendência.
A desvalorização do leite esteve ligada ao excesso de oferta, tanto pelo aumento da produção doméstica quanto pelas importações crescentes. Porém, a captação dos laticínios tem desacelerado desde setembro e, em outubro, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou apenas 1,4%.
A produção de leite vem sendo limitada pela combinação de clima adverso à atividade (seca e calor no Sudeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul) com margens espremidas dos pecuaristas.
Importações
Com a queda no preço do leite, as importações chegaram a perder força em setembro, porém, voltaram a crescer em outubro e novembro. Dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) mostram que as compras externas de queijos puxaram a alta de 5% nas importações de novembro que foram de 203,9 milhões de litros em equivalente leite, e que, no acumulado do ano, o volume adquirido supera em mais de 70% o registrado no ano passado.
No acumulado do ano (até novembro), as compras externas de lácteos somam 2,02 bilhões de litros em equivalente leite, volume 71,7% acima do registrado no mesmo período de 2022.
As importações seguiram crescentes, atingindo o quarto maior volume de 2023. O déficit da balança comercial aumentou para US$ 80,3 milhões em receita, 4,7% superior à de outubro e 199,2 milhões de litros em equivalente leite, quantidade 7,4% maior.
Ainda assim, os estoques de lácteos estiveram mais limitados em novembro, o que ajudou a frear a queda no preço de alguns lácteos e a elevar as cotações do UHT e da muçarela. Contudo, a valorização não foi suficiente para garantir rentabilidade aos laticínios e a alta não persistiu na primeira quinzena de dezembro, prejudicado pela queda do consumo e pela concorrência entre laticínios e entre os produtos brasileiros e importados.