A aquicultura, setor que registra crescimento constante na produção de alimentos, enfrenta impactos cada vez mais intensos das mudanças climáticas.
Ondas de calor, alterações na salinidade, queda nos níveis de oxigênio na água e eventos extremos colocam em risco espécies cultivadas, sistemas de produção e comunidades costeiras.
Para apoiar o setor na adaptação a essas mudanças, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) lançou a ferramenta Aqua-Adapt, voltada para a construção de estratégias de adaptação da aquicultura. A iniciativa orienta governos, produtores, pesquisadores e demais agentes da cadeia produtiva.
Ferramenta para adaptação da aquicultura

De acordo com Fernanda Sampaio, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e uma das coordenadoras da publicação, o Aqua-Adapt permite aplicar processos de avaliação de riscos e vulnerabilidades em diferentes escalas, da fazenda ao nível nacional, ajudando a planejar ações mais eficazes para aumentar a resiliência do setor.
A publicação foi desenvolvida em parceria com o Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Aquicultura (INCAR) da Universidade de Concepción, no Chile, e contou com a colaboração de especialistas de diversas partes do mundo. A versão preliminar passou por revisão internacional e foi testada em estudos de caso sobre criação de salmão e produção de mexilhão no Chile, o que permitiu ajustar a metodologia para diferentes contextos.
O Aqua-Adapt organiza-se em seis etapas, inspiradas nas diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

As fases incluem definir a unidade de adaptação, selecionar projeções climáticas, avaliar riscos e vulnerabilidades, elaborar um plano de adaptação, implementar a estratégia e monitorar continuamente os resultados.
Segundo Doris Soto, da Universidade de Concepción, o diferencial da ferramenta está na combinação da análise de riscos com a participação de produtores e gestores, permitindo alinhar ciência e prática para fortalecer a resiliência climática.
Especialistas destacam que a aquicultura, responsável por mais da metade do pescado consumido mundialmente, tem papel crescente na segurança alimentar global. Ao mesmo tempo, sua vulnerabilidade exige estratégias coordenadas que integrem iniciativas locais e políticas nacionais e internacionais.
Nesse cenário, o Aqua-Adapt surge como um instrumento capaz de transformar riscos em oportunidades, oferecendo orientações práticas para fortalecer a capacidade de adaptação do setor ao longo do tempo.