Pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura, no Tocantins, realizaram um avanço significativo na reprodução artificial do pirarucu (Arapaima gigas), uma espécie da Amazônia que está em risco de extinção e é altamente valorizada tanto na gastronomia quanto na indústria da moda.
Pela primeira vez, foi possível analisar as células espermáticas do pirarucu e confirmar a viabilidade de coleta de sêmen, um passo crucial para assegurar o fornecimento de alevinos e atender à crescente demanda do setor produtivo por reprodução artificial.
Reprodução artificial de pirarucu
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Após quase uma década de pesquisas, os resultados foram publicados na revista científica Fishes e os estudos foram realizados no âmbito do projeto internacional Aquavitae, um dos maiores consórcios científicos voltados à aquicultura, que abrange as regiões do Atlântico e suas áreas adjacentes.
Ao contrário da tilápia (Oreochromis niloticus), cuja reprodução em cativeiro já é bem estabelecida, a domesticação do pirarucu representa um grande desafio científico. Atualmente, uma boa parte da produção de pirarucu ainda depende da reprodução natural. Estima-se que, de 10 a 15 casais mantidos em uma propriedade, apenas três ou quatro consigam se reproduzir a cada ano.
Com o objetivo de melhorar essa situação, os cientistas buscam criar um protocolo de reprodução artificial que possibilite a oferta constante de alevinos ao longo do ano, atendendo a uma antiga necessidade do setor.
O primeiro obstáculo foi encontrar uma forma eficiente de identificar machos e fêmeas da espécie. Neste caso, a dificuldade em diferenciar os sexos leva os criadores a povoarem os viveiros de forma aleatória, esperando formar casais. Quando um casal é formado, ele é transferido para um viveiro menor, facilitando o controle sobre os peixes.
Para resolver esse problema de sexagem, os pesquisadores desenvolveram um método de canulação. Nesse procedimento, um tubo fino é introduzido no “oviduto” do peixe, permitindo identificar o sexo e ainda verificar a maturidade das fêmeas.
Reprodução de peixes nativos
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Mesmo com as tecnologias para a reprodução de espécies como tilápia e salmão já bem consolidadas, o mesmo não se aplica aos peixes nativos brasileiros. Espécies como o tambaqui, por exemplo, ainda necessitam de terapia hormonal para ovulação em cativeiro.
No caso do pirarucu, até 2010, poucos métodos eram eficazes para diferenciar machos e fêmeas, uma vez que não havia uma ferramenta confiável e acessível para confirmar o sexo dos peixes. Sendo assim, um dos maiores desafios para a reprodução induzida do pirarucu era a ausência de tecnologias adequadas para realizar biópsias ovarianas, uma etapa essencial para avançar com terapias hormonais.
Para superar essa dificuldade, foram realizados estudos anatômicos da espécie utilizando um ureterorrenoscópio, dispositivo endoscópico usado na remoção de pedras nos rins em humanos.
Durante esses estudos, os cientistas descobriram que a anatomia do pirarucu difere de outros peixes, que possuem um oviduto definido.
“Em certo momento, depois de entender a anatomia do peixe, conseguimos substituir o ureterorrenoscópio por uma cânula endurecida com um arame dentro dela. Com essa cânula endurecida conseguimos acessar a cavidade celomática do animal, onde fica o ovário. Isso possibilitou que conseguíssemos distinguir machos e fêmeas com um acerto entre 80% a 100% e viabilizou identificar quais fêmeas estão maduras e aptas para receber o hormônio e induzir sua reprodução”, explicou o pesquisador da Embrapa.