Um estudo revela que os rios do Cerrado podem sofrer uma perda significativa de água até 2050, devido à exploração inadequada do bioma. O alerta foi dado por Yuri Botelho Salmona, fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, em comemoração ao Dia Mundial da Água, nesta terca-feira (21/3), instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Salmona ainda ressaltou a importância de as autoridades reservarem a mesma atenção dada à Amazônia, ao Cerrado, posto que um bioma não existe sem o outro. A pesquisa analisou 81 bacias hidrográficas do Cerrado entre 1985 e 2022, e revelou que 88% delas apresentaram diminuição na vazão.
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O estudo também evidencia que 56% da redução de água está associada à mudança do uso do solo, enquanto os outros 44% estão relacionados às mudanças climáticas.
Em entrevista à Agência Brasil, Salmona destacou que ao falar sobre mudança de uso do solo, está se referindo ao desmatamento e àquilo que é colocado em substituição após a derrubada. O pesquisador apontou que o cenário tem se agravado principalmente no oeste da Bahia.
Aquecimento do planeta colabora para a evaporação rápida da água dos rios do Cerrado
De acordo com o pesquisador, em relação às consequências climáticas, há um aumento na evapotranspiração potencial, que é a quantidade de água que pode ser evaporada e transpirada pelas plantas. Além disso, Salmona destacou que esse é o estudo mais abrangente já realizado sobre os rios do Cerrado.
Ele explica, ainda, que a radiação solar está aumentando, tornando o clima mais quente e resultando em maior evaporação da água. É nesse ponto que a mudança climática tem atuado de forma abrangente no Cerrado, com algumas regiões mais afetadas, como o Maranhão, Piauí e o oeste da Bahia.
Volume maior de chuvas em um curto período de tempo
Outro ponto que tem chamado a atenção dos pesquisadores é o padrão de chuvas que, também, está sendo afetado. De acordo com Salmona, a diminuição dos períodos de chuva é mais comum do que a diminuição do volume total de chuva. Isso significa que a mesma quantidade de água que costumava cair em quatro ou cinco meses agora está caindo em apenas dois ou três meses.
Como resultado, a capacidade do solo de filtrar essa água e mantê-la disponível durante períodos secos é menor. Essa situação é ainda mais preocupante porque a vegetação do Cerrado tem raízes capazes de armazenar água, o que ajuda a manter a vazão dos rios nos meses de estiagem.
De acordo com o pesquisador, entre 80% e 90% da água dos rios do bioma tem origem na água subterrânea. Portanto, a mudança do uso do solo e a diminuição da vegetação nativa podem ter um efeito em cadeia na disponibilidade de água na região.
- Com informações da Agência Brasil