Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) avaliou o bem-estar de bovinos com relação ao conforto térmico proporcionado por árvores no pasto, dentro de sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
O monitoramento acontece desde o sistema de produção até o nível celular dos animais de corte criados a pasto. Os resultados mostraram que investir nesse tipo de atividade, além de melhorar o conforto térmico dos animais, proporciona melhor reprodução e ganho de peso.
Árvores no pasto e impactos na pecuária de corte
Durante o trabalho foi considerado o parâmetro ambiental do microclima, a observação dos animais e seus comportamentos e, a coleta do material biológico e as análises laboratoriais.
Segundo o pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, coordenador do estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foram utilizados sobrevoos de avião com câmeras termais, passando pelo sensoriamento proximal dos animais, até chegar à microscopia.
Os resultados apontaram que o plantio de árvores em áreas de pastagens tropicais proporciona um microclima mais favorável à criação de bovinos de corte, influenciando o conforto térmico, expressão do comportamento natural e as condições fisiológicas.
O estresse térmico nos animais leva a distúrbios nutricionais e metabólicos, reduzindo a taxa de crescimento, o ganho de peso, além de comprometer, a reprodução e a fertilidade, por isso a importância da regulação de temperatura. Além disso, animais criados sob sistema ILPF consumiram menos água e menos mistura mineral.
As árvores no pasto ainda melhoram a qualidade da forragem com maior teor de proteína bruta, que também aumenta a biodiversidade, a matéria orgânica no solo, reduz a temperatura, traz bem-estar e favorece o balanço de carbono na produção dos bovinos.
Experimento
Realizada na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), a pesquisa a campo teve duração de 13 meses, com um ciclo completo e percorrendo todas as estações climáticas, entre o verão de um ano até o verão do ano seguinte.
Foram avaliados 64 machos das raças Nelore e Canchim, com 24 meses e peso médio de 412 kg. Os animais foram divididos em: sistema de pastagem a pleno sol, com 12 hectares de capim Urochloa brizantha cultivar Piatã e poucas árvores, que ofertava entre 3% e 4% de sombreamento natural, similar ao adotado nos sistemas de produção a pasto no Brasil.
O outro sistema de produção era do tipo Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), também com 12 hectares de Piatã, arborizado com eucaliptos, também com animais Nelore e Canchim. Nos dois experimentos, eles tiveram acesso irrestrito à água e à mistura mineral, e receberam o mesmo manejo sanitário.
A termografia infravermelha utilizando veículos aéreos tripulados, associada a registros feitos em estações meteorológicas nas duas áreas observadas, permitiu a identificação e o dimensionamento de ilhas de calor nas pastagens convencionais e de zonas de conforto para o gado nas pastagens arborizadas.
O comportamento de cada animal foi avaliado com registros de movimento, por visualização e pelo uso de acelerômetros acoplados a colares, que mostraram que os animais em ILPF pastejaram com mais eficiência por terem sombreamento do que os animais à pleno sol.
Resultados
O sistema ILPF foi eficaz em atenuar o microclima das pastagens pela ação dos eucaliptos, impactando as características fisiológicas relacionadas ao conforto térmico. O ambiente confotável influencia positivamente no comportamento, produção, reprodução e a rentabilidade global do sistema, para que o animal expresse todo seu potencial genético e garanta lucro e sustentabilidade da pecária de corte.