O frio intenso e úmido no fim do outono e começo do inverno, em junho deste ano, provocou a morte de quase 3 mil cabeças de bovinos em Mato Grosso do Sul, um prejuízo estimado de R$ 10 milhões, segundo Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro).
A tendência é de um ciclone extratropical associado a uma frente fria avançar pelo Brasil e com o inverno que só termina em setembro, vai exigir do pecuarista providências para minimizar os efeitos do frio intenso sobre os bovinos.
Proteção de bovinos no frio
A onda de frio, caracterizada por uma inversão térmica repentina, causa rápida queda da temperatura. Nesse período de inverno, não é raro o frio vir acompanhado de chuva e ventos intensos, condições extremas que podem levar os animais ao estresse.
O produtor precisa conhecer os fatores de risco que causam a hipotermia, diminuição da temperatura corporal abaixo do normal estabelecido, causada pelo frio, geada, ventos ou chuvas, e de extremo valor. Diante desse cenário, soma-se a falta de abrigo para os animais e de alimentos; a condição corporal do indivíduo, a raça e a idade.
A resposta dos animais ao frio varia de indivíduo, mas até mesmo animais saudáveis e bem alimentados podem não aguentar temperaturas muito baixas.
Proteger os animais em áreas abertas sem presença de vegetação e abrigo, é um desafio para os pecuaristas. É importante buscar locais onde os animais possam se proteger naturalmente e além disso, há iniciativas como utilizar fogueiras em áreas restritas como uma medida paliativa.
Segundo o Programa de Boas Práticas Agropecuárias de Bovinos de Corte (BPA) da Embrapa Gado de Corte em Campo Grande-MS, é importante que o pecuarista tenha um bom planejamento sobre as ondas de frio, a começar pela condição sanitária e nutricional adequada do rebanho, que é fundamental para evitar as mortes por hipotermia.
Medidas de proteção
O produtor rural precisa tomar ações preventivas de proteção dos animais, de acordo com pesquisadores da Embrapa:
1) Enfrentamento à geada no campo
Ter áreas florestadas ou invernadas contendo “capões de mata”, que servem de agasalho aos animais contra os ventos gelados e as temperaturas a céu aberto, que protege das correntes de ventos. Posicione os animais em invernadas que tenham barreiras naturais (morros) ou vegetais (árvores, reservas); e evite correntes de ar frio, geralmente canalizadas, ao longo dos cursos d’água.
Além disso, deixe os cantos de cerca abertos na direção por onde caminham os animais em busca de proteção e, abrigue os mais debilitados do rebanho, levando-os a uma área protegida próximo da sede da propriedade; e mantenha a suplementação na dieta.
2) Depois da geada
O ideal é evitar que os animais passem outono e inverno com escores corporais abaixo de quatro (escala de nove) ou três (escala de cinco). Em relação ao pasto, é recomendável uma sobra de forragem para a fase de escassez, algo entre 4 e 5 ton de MS/ha para cada animal, para uma janela de cinco meses.
Se os animais estiverem perdendo peso rápido, segundo a Embrapa, a orientação é a retirada dos animais da propriedade pela venda, parceria com outro produtor ou mesmo pela contratação temporária de um confinamento ‘boitel’.
3) Ações políticas
Os especialistas sugerem que as entidades de classe: sindicatos, federação e associações de criadores, realizem estudos de impacto econômico, com o intuito de subsidiar possíveis reivindicações, como prorrogação de dívidas de custeio e investimentos, linhas de financiamento para recuperação de pastagens, manutenção ou recuperação de rebanhos, dentre outras.
Importante também é dar incentivos ao reflorestamento com árvores nativas, pois mantém fixo o carbono retirado do ar em suas estruturas, recicla o carbono através das folhas, alimenta insetos e a fauna silvestre com flores e frutos. Além disso, protege os animais do frio e do calor intenso, contribuindo para o bem-estar animal.
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Bem-estar animal
A médica-veterinária e pesquisadora em sanidade animal, Vanessa Felipe, observa que garantir condições que evitem desconforto físico e térmico, seja para calor ou frio, é um dos cinco princípios básicos, ou liberdades, a serem atendidos em relação ao bem-estar animal, preconizados pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).