A produção de alface céu aberto no Brasil pode se tornar um grande desafio nas próximas décadas. Levantamento realizado pela Embrapa Hortaliças (DF), com base em projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e em modelos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta que praticamente todo o território nacional terá risco elevado ou muito elevado para a produção da hortaliça até o fim do século.
A análise considerou dois cenários, sendo um mais favorável, em que as emissões de gases de efeito estufa são parcialmente controladas, e outro pessimista, com crescimento contínuo dessas emissões até 2100.
A produção de alface durante aquecimento global

Em ambos, o cultivo tradicional da alface ao ar livre aparece em situação crítica. O verão é o período mais preocupante, já que as temperaturas projetadas podem superar 40 °C em várias regiões, valor muito acima do ideal para o desenvolvimento da planta, que demanda clima mais ameno.
Diante desse quadro, pesquisadores trabalham em duas linhas principais, o desenvolvimento de variedades mais tolerantes ao calor e a criação de sistemas de produção adaptados às mudanças do clima.
Entre as soluções estão o plantio direto de hortaliças e o cultivo orgânico com compostagem e bioinsumos, além do uso de ambientes protegidos e de zoneamentos agroclimáticos que orientam a produção em áreas mais seguras.

As projeções foram feitas com o modelo ETA, validado para o Brasil e América Latina, que analisou dados de temperatura mínima, média e máxima em diferentes períodos, até 2040, entre 2041 e 2070, de 2071 a 2100, além de registros históricos de 1961 a 1990.
Os cenários simulados se basearam nos Caminhos de Concentração Representativos (RCPs) do IPCC, o RCP 4.5, com aumento global entre 2 °C e 3 °C, e o RCP 8.5, que projeta elevação de até 4,3 °C.
Os resultados para o fim do século são os mais preocupantes. No cenário otimista, 79,6% do território brasileiro apresenta risco alto para o cultivo de alface em campo aberto e 17,4% risco muito alto.
Por sua vez, no pessimista, a situação se agrava, sendo 87,7% do País passa a ter risco muito alto e apenas 11,8% permanece em nível alto.