Um sistema desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Tropical, no Ceará, tem ampliado a eficiência no uso de recursos na produção de hortaliças com reuso da solução nutritiva.
A solução, que combina filtros de areia e esterilização por luz ultravioleta, permite tratar e reaproveitar a solução nutritiva que sobra da irrigação. O processo eleva em 61% o aproveitamento da água e reduz em 29% o consumo de fertilizantes, trazendo economia ao produtor e diminuindo o impacto ambiental.
Hortaliças com reuso da solução nutritiva

O pesquisador Fábio Miranda, responsável pelo estudo, explica que o cultivo em substratos costuma apresentar produtividade superior à do cultivo em solo. No entanto, exige aplicação diária de volumes maiores de água ou solução nutritiva, justamente para controlar a salinidade nos vasos. Quando os sais se acumulam além do tolerado, as plantas têm dificuldade de absorver nutrientes, o que compromete o desenvolvimento.
Nesse tipo de cultivo, as perdas de água e nutrientes podem chegar a 30%, dependendo da qualidade da água. Ao recuperar a solução drenada, conhecida como solução lixiviada, o produtor reduz o desperdício de fertilizantes, evita o descarte inadequado de efluentes e diminui a necessidade de captar água superficial ou subterrânea.
Apesar dessas vantagens, ainda há pouca adoção da tecnologia no Brasil, principalmente por receio de contaminação por patógenos e pelo desafio de manejar a salinidade.
Avaliação em estufa comercial

Com base na pesquisa, a validação do sistema ocorreu em uma estufa de 2.500 m² em Guaraciaba do Norte (CE), em parceria com a empresa Estufa Timbaúba. Foram comparados dois cultivos de tomate tipo grape, cada um com mil plantas: um utilizando o reuso da solução nutritiva e outro sem reaproveitamento.
No tomateiro adulto, o consumo médio é de 2,4 litros de água por planta ao dia, podendo chegar a mais em dias quentes. Desse total, cerca de 20% a 30% normalmente se perde por lixiviação.
Nos testes, o sistema de reuso reduziu em 25% o volume de água demandado e aumentou a eficiência do uso da água para 18,6 kg de tomate por metro cúbico, contra 11,5 kg/m³ no cultivo convencional, um ganho de 61%.
O uso de fertilizantes também caiu significativamente. A redução foi de 29% em relação ao sistema tradicional, o que representa economia de 900 kg do insumo em um ciclo de 180 dias e redução de 24% nos custos.
Entenda como funciona o sistema
A tecnologia é composta por filtros de areia de fluxo lento, instalados paralelamente, além de um esterilizador UV e dois reservatórios, um para armazenar a solução drenada e outro para guardar o produto tratado. A solução recolhida dos vasos é direcionada por calhas de polipropileno até o tanque de armazenamento. Quando o nível atinge o volume ideal, ela segue para os filtros.
Os filtros são formados por bombonas de 200 litros com camadas de brita e areia, tubulações de PVC, medidores de vazão e válvulas que controlam o fluxo. Cada filtro pode tratar até 125 litros por hora. Caso a produção gere um volume maior, filtros adicionais são acionados.
Depois da filtragem, a solução passa pela radiação ultravioleta para eliminação de possíveis agentes causadores de doenças. Em seguida, é enviada para outro reservatório, onde recebe os nutrientes necessários antes de retornar ao sistema de irrigação.
Portanto, os ensaios conduzidos no Laboratório de Fitopatologia da Embrapa testaram a eficiência do processo com solução contaminada por esporos do fungo Fusarium, comum no tomate e no pimentão. As análises realizadas antes e depois do tratamento confirmaram a eliminação dos patógenos, validando o sistema como opção segura para reutilização da solução nutritiva.







