A cevada é um cereal utilizado na fabricação do malte das cervejas e também pode ser usada na alimentação humana e animal, com potencial para expansão do cultivo no Cerrado do Brasil Central.
A opção vem sendo pesquisada no programa de melhoramento genético da cevada irrigada na região, coordenado pela Embrapa Trigo (RS) e com ações da Embrapa Cerrados (DF) no Centro de Inovação em Genética Vegetal (CIGV) da unidade, em Brasília. O programa tem sido apresentado a representantes de cooperativas, extensionistas, técnicos e professores que atuam na região.
Pesquisa de cevada irrigada no Brasil Central
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), das 145,6 milhões de toneladas de cevada produzidas no mundo em 2021, a alimentação animal foi o destino de 68%, para produção de malte 19%, alimentação humana e outros usos (8%) e pela produção de sementes (5%).
No Brasil, cerca de 90% da produção de cevada é utilizada na malteação de bebidas, principalmente cervejas. Os maiores produtores são a Rússia e a Austrália, enquanto o Brasil é o 38º maior produtor, tendo produzido cerca de 500 mil toneladas em 2021.
Mesmo não sendo grande produtor, o Brasil é um grande consumidor, sendo ainda o terceiro maior produtor mundial de cerveja e, consome de 2,1 milhões toneladas de malte de cevada anuais. O país é o sétimo maior importador de cevada e malte (1,91 milhão toneladas em 2021).
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Produção de cevada no Brasil
A área plantada com cevada prevista para o Brasil este ano está em torno de 130 mil hectares. O país tem observado um aumento maior de rendimento que no restante do mundo, assim como a produção, que apesar de pequena em relação aos principais países produtores, tem crescido a um ritmo superior ao mundial.
Potencial de produção no Cerrado
A maior parte da produção nacional está concentrada na região Sul, e uma pequena parte no estado de São Paulo. Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Aloisio Vilarinho, existe um grande potencial de produção no Centro-Oeste e na região Sudeste, em áreas de maior altitude, principalmente no inverno e sob irrigação.
“O Brasil demanda 2,1 milhões toneladas de malte por ano para atender à indústria cervejeira e só produz 750 mil toneladas, ou seja, só um terço do necessário. Para produzir essas 750 mil toneladas de malte, são necessárias 900 mil ton de grãos. No ano passado, em que batemos o recorde de produção, produzimos 490 mil toneladas, ou seja, praticamente metade do que seria necessário para produzir o malte feito no Brasil”, analisa.
Nas condições de Cerrado, em que a cevada é produzida no inverno sob irrigação, seria possível produzir um grão com qualidade excelente e um produtividade muito alta devido à quantidade regulada de água. Mas ainda não se produz cevada aqui porque não há maltarias na região.
O pesquisador acredita que há mercado interno para a cevada, além da demanda de malte pelas cervejarias, há novos mercados para alimentação humana. Com a alta demanda também para alimentação animal, vem crescendo o uso de cereais de inverno.
Regiões com altitudes acima de 800 metros e temperaturas amenas no inverno são favoráveis ao cultivo da cevada. Quase 5 milhões hectares de áreas assim e que já são cultivadas com culturas agrícolas anuais do Cerrado e no Sudeste poderiam ser utilizadas para o cereal, sem a necessidade de desmatamentos, mais de 2,3 milhões ha em Goiás, 2,19 milhões ha em Minas Gerais, 314 mil ha em São Paulo e 106 mil ha no Distrito Federal.
“Precisaríamos de cerca de 500 mil ha de áreas de cultivo de cevada no Brasil, considerando um rendimento de 4 ton/ha, para atender à nossa demanda. Temos aqui muito mais do que isso”, comenta o pesquisador.
Cultivar de cevada para o Cerrado
Os ensaios do programa de melhoramento genético de cevada irrigada no Brasil Central são conduzidos na Fazenda Sucupira, onde está localizado o Centro de Inovação em Genética Vegetal (CIGV) da Embrapa Cerrados, há mais de 20 anos.
Além disso, materiais da Embrapa foram plantados em 2 mil hectares no DF, no Vale do Pamplona (GO), bem como na Bahia, para avaliação do potencial da cultura no estado.
Diversas tecnologias em adubação, irrigação, sementes, entre outras, para a cultura da cevada já estão disponíveis para a região. A cultivar de cevada irrigada de ciclo mais tardio já lançada pela Embrapa para o Cerrado é a BRS 195 (120 dias). Já a cultivar de cevada nua que está em desenvolvimento tem ciclo de 103 a 105 dias no Distrito Federal.
A Embrapa também desenvolveu e registrou para São Paulo, Goiás, Minas Gerais e o Distrito Federal as cultivares BRS 180, BRS Kalibre, BRS Itanema e BRS Deméter, BRS Cauê, BRS Sampa, BRS Manduri e a BRS Savanna.
Veja os detalhes da pesquisa com Cevada no Cerrado.