Um fungo endofítico isolado de uma planta medicinal do gênero Piper levou uma equipe da UFMG, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Embrapa Meio Ambiente a descobrir substâncias naturais com forte potencial para uso agropecuário.
Entre os compostos obtidos pelo grupo, um deles batizado provisoriamente como “composto 2”, não possuía registros na literatura científica e demonstrou desempenho semelhante ou até superior ao de herbicidas sintéticos já disponíveis no mercado.
Planta medicinal para novos bioinsumos
A investigação marca o primeiro relato de atividade biológica dessa molécula, ampliando o repertório de compostos naturais que podem servir de base para desenvolver defensivos agrícolas menos dependentes da química industrial.
Esses microrganismos vivem dentro de plantas sem causar danos aparentes e, muitas vezes, estabelecem uma relação de troca benéfica, enquanto recebem abrigo e nutrientes, produzem substâncias capazes de reforçar as defesas do hospedeiro contra pragas e patógenos.
Entre os isolados analisados no estudo, destacou-se um fungo classificado como Fusarium sp. UFMGCB 15449. O gênero Fusarium, muito comum em solos e plantas, inclui desde espécies que provocam doenças agrícolas até linhagens conhecidas por gerar compostos de interesse biotecnológico.
Segundo a pesquisadora Debora Barreto, da UFMG, algumas espécies produzem micotoxinas que interferem no sistema imunológico de plantas e animais, enquanto outras já tiveram efeitos antimicrobianos observados em culturas como o café e em espécies medicinais.
Identificação e origem do microrganismo

O fungo utilizado na pesquisa foi coletado em 2017, no Parque Estadual da Floresta do Rio Doce (MG), e está preservado na Coleção de Micro-Organismos e Células da UFMG. Sua identificação envolveu análise genética e comparação com o GenBank, um dos principais bancos de dados de sequências de DNA do mundo.
O grupo conseguiu confirmar o gênero, mas não a espécie, devido às conhecidas dificuldades taxonômicas relacionadas ao Fusarium. Ainda assim, a caracterização obtida foi suficiente para iniciar as avaliações biológicas.
Nos testes, o extrato do fungo foi aplicado em bioensaios com sementes de alface (Lactuca sativa) e grama-de-bent (Agrostis stolonifera), modelos amplamente usados na triagem de herbicidas. Foram isolados três metabólitos, sendo o anidrofusarubina, javanicina e o composto inédito.
Na avaliação antifúngica, os compostos também mostraram atividade contra Colletotrichum fragariae, patógeno agrícola de importância econômica. Para a pesquisadora Sonia Queiroz, da Embrapa Meio Ambiente, os resultados confirmam que metabólitos de fungos endofíticos podem se transformar em aliados importantes no controle de doenças vegetais.
Alternativas sustentáveis para a agricultura

O uso intensivo de pesticidas sintéticos desde a década de 1940 aumentou a produtividade agrícola, mas também trouxe impactos negativos, como contaminação ambiental e riscos à saúde humana.
Diante do desafio de alimentar uma população que pode chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, a busca por soluções eficazes e ambientalmente responsáveis se intensifica.
Além de abrir caminho para novos defensivos, o estudo reforça o valor da biodiversidade brasileira. A variedade de microrganismos presente em florestas e outros biomas ainda é pouco explorada e pode fornecer insumos para inovações em diferentes áreas.







