A recente visita da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan tem aumentado a tensão entre EUA e China, uma vez que o governo de Pequim promete esboçar uma reação e marcar posição para evitar qualquer contato entre Taiwan e outros países.
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que os chineses não reconhecem a ilha, que possui cerca de 24 milhões de habitantes, como um ente federativo. A consequência disso é a constante buscar por formas de ampliação da sua influência e meios para tomar o controle do território.
A viagem da representante americana aconteceu nesta terça-feira (2/7). Entretanto, antes mesmo do início da jornada, o governo chinês já havia se posicionado alegando que a ida Pelosi ao local era considerada como uma “provocação”, prometendo até “ações militares seletivas” de represália contra a ilha.
Usando esse contexto como base, a tensão entre EUA e China começa a se tornar palpável, visto que cinco pontos de impacto se destacam nesta situação. São eles:
- Taiwan não é reconhecida pela China como um país independente. Na visão do governo, a ilha é apenas uma parte do seu território e afirma que a visita é um “sinal severamente errado às forças separatistas a favor da independência de Taiwan” .
- O país asiático se opõe a qualquer contato, feito pelas principais autoridades de Taiwan, com outros países. Deste modo, apenas 13 países e o Vaticano reconhecem Taiwan como um país soberano.
- Os EUA possuem uma política de “ambiguidade estratégica” quando o assunto em pauta é Taiwan. Em outras palavras, o país não reconhece Taiwan como um Estado, porém mantêm relações com a ilha.
- Nancy Pelosi, integrante do Partido Democrata, se apresenta como crítica ao governo chinês, em especial com relação aos direitos humanos. Ao chegar na ilha, a representante afirmou que a visita da delegação do Congresso honrava o compromisso independente dos EUA em apoiar a “democracia vibrante”.
- Nancy é a principal autoridade americana a visitar Taiwan desde o ano de 1997. Entretanto a visita não é aprovada sem restrições entre os americanos, uma vez que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que os militares avaliavam que a visita não era “uma boa ideia”.
A separação entre China e Taiwan aconteceu no ano de 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram os nacionalistas que estavam se refugiando na ilha. Desde então os chineses consideram o território como uma de suas províncias históricas, mas não controlam a ilha.
Devido ao fato de se oporem a qualquer contato de Taiwan com representantes de outros países, desde as eleições de 2016 o governo chinês tem aumentado a pressão militar e diplomática contra a ilha. O motivo: a presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, é a favor da independência de Taiwan.
Apesar da constante pressão do governo da China em cima da ilha, Taiwan possui o seu próprio sistema eleitoral, focado na democracia e na divisão de poderes entre os representantes do estado (presidente e Assembleia Nacional). Atualmente a ilha é considerada como um dos componentes dos Tigres Asiáticos.
É preciso ressaltar que mesmo com a sua política ambígua em relação à Taiwan, a ilha conta com o apoio do Congresso dos Estados Unidos, tanto que as ameaças de Pequim apenas levaram a pedidos para que Nancy Pelosi continuasse sua viagem.
Já em relação ao posicionamento da China quanto à visita, a afirmativa do governo é de que o país está pronto para responder sobre a passagem de Pelosi. Assim, a declaração feita pelo porta-voz do Ministério da Defesa, em comunicado, é de que:
“O Exército de Libertação do Povo Chinês (EPL) está em alerta máximo e lançará uma série de ações militares seletivas para (…) defender a soberania nacional e a integridade territorial e frustrar a interferência externa e as tentativas separatistas de ‘independência de Taiwan'”.
Após o desembarque da representante americana, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China se pronunciou afirmando que a vista é uma séria violação ao princípio de “Uma só China” e que infringe, severamente, a integridade territorial da gigante asiática.
“Infringe severamente a soberania e a integridade territorial da China, prejudica severamente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, e emite um sinal severamente errado às forças separatistas a favor da ‘independência de Taiwan'”, disse o ministério.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China ainda completou dizendo que a visita de Nancy Pelosi a Taiwan terá um “impacto severo” na base política das relações China X EUA.
Impactos para o agronegócio
Um possível conflito entre Estados Unidos e Chine, pode acabar trazendo algumas consequências para no agronegócio mundial e também para o segmento no Brasil. O primeiro ponto a deixar claro aqui é que a relação comercial Brasil X Estados Unidos não será afetada.
É preciso lembrar que a relação entre o Brasil e os Estado Unidos é de longa data. Ou seja, os acordos comerciais entre essas duas nações acontecem a muito tempo. Outro ponto importante a ser ressaltado é que não existe nenhum conflito entre esses territórios.
Já ao que diz respeito entre China e Brasil, as relações podem mudar, uma vez que o governo chinês prometeu retaliações contra os Estados Unidos. Segundo o especialista em operações agrícolas, Rodolfo Gomes, não podemos esquecer que a China é muito dependente do mercado agrícola mundial.
“A China é muito dependente do mercado agrícola mundial e compra, basicamente, dos Estados Unidos e do Brasil. Então, se houver um conflito, a China pode muito bem falar: ‘Valeu EUA, não preciso dos seus grãos, vou comprar 100% do Brasil'”, explica o especialista.
Rodolfo Gomes ressalta ainda que essa situação acaba, por outro lado, deixando a China vulnerável, uma vez que o Brasil pode pedir o preço que quiser nos seus produtos. Lembrando ainda que o governo chinês é o maior produtor mundial de produtos eletrônicos e os Estados Unidos é dependente disso.
“Pode acontecer algumas coisas no sentido econômico. A China pode sobretaxar as exportações para os Estados Unidos. Também pode acontecer do governo chinês buscar mais produtos agrícolas no Brasil e deixar o mercado americano um pouco mais afastado”, comenta.
É de suma importância destacar que a visita de Nancy Pelosi a Taiwan acaba catalizando o momento vivido desde o início da guerra na Ucrânia. Quando Rússia invadiu e sanções foram colocadas em cima do país, a China acabou fortalecendo a sua relação com os russos.
O especialista diz que a passagem da representante americana pela ilha acaba fortalecendo ainda mais relação Rússia X China, o que acaba sendo perigoso, visto que os países aliados podem promover guerras econômicas, físicas e cibernéticas, em todo o mundo.
Historicamente o Brasil é conhecido por evitar se posicionar quanto a conflitos envolvendo outras nações. Deste modo, a melhor estratégia é que o país se mantenha “em cima do muro”, apenas ajudando com a cessão pacífica do conflito.
Outro ponto importante é deixar claro que o Brasil tem pouca dependência quanto aos insumos chineses. A China, por outro lado, possui grande relevância na compra de produtos brasileiros. Deste modo, se o Brasil se manter isento no conflito, ele pode se beneficiar bastante no mercado de exportações.