As franjas de corais que atraem turistas para a costa do Nordeste são as responsáveis por atuarem como barreira contra a ação do mar em diversas cidades.
Conforme uma pesquisa da Fundação Grupo Boticário, essas formações naturais impedem prejuízo de R$ 160 bilhões na infraestrutura urbana, reduzindo a força e a altura das ondas que chegam ao litoral.
Cidades protegidas pelos corais
Ao menos quatro cidades foram usadas como base durante as pesquisas, sendo: Recife e Ipojuca, em Pernambuco, e Maragogi e São Miguel dos Milagres, em Alagoas.
O valor foi calculado utilizando como base o potencial prejuízo que ressacas e tempestades poderiam causar nas estruturas, como em prédios, casas, indústrias, portos, rodovias, ruas e calçadas.
Na pesquisa também ficou evidenciado que nas cidades costeiras não protegidas por recifes de corais como Santos ou Rio de Janeiro, enfrentam diariamente destruição de estruturas da orla quando são afetadas por ressacas mais fortes.
Os corais são formações que parecem rochas, são esqueletos de corais, animais da classe Anthozoa, que têm o corpo semelhante a gelatinas. Acredita-se que essa forma de vida animal tenha surgido entre 400 e 500 milhões de anos atrás.
Eles ocupam cerca de 0,1% da superfície dos mares e oceanos, mas concentram 25% da biodiversidade marinha. Segundo o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep), estima-se que de 25% a 50% dos recifes de corais do mundo já foram destruídos e, do restante, 60% estariam ameaçados.
Turismo
Durante o levantando também foi confirmado que, além de evitar danos bilionários ao litoral, os corais podem fomentar a economia e gerar anualmente R$ 7 bilhões em receitas, com atividades de turismo, como mergulhos e passeios de barcos.
Os dados são de acordo com as receitas geradas por essas franjas em Maragogi, São Miguel dos Milagres, Ipojuca, Caravelas e Fernando de Noronha.
“Já é conhecido que os recifes de corais prestam diversos serviços, entre eles a proteção costeira e o turismo. O que nós trouxemos foram valores, em reais. Todo esse patrimônio, seja cultural, público ou particular, está sendo protegido diariamente pelos recifes de coral”, pontua a bióloga marinha Janaína Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Boticário.
Ameaças aos corais
O litoral de Pernambuco está sendo alvo de algumas ameaças, como turistas pisoteando recifes e lotando as piscinas naturais, além de lixo sendo deixado por esses turistas e flutuando em meio aos corais.
De acordo com o professor do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),Mauro Maida, na praia dos Carneiros [em Tamandaré], derrubaram todas as restingas e construíram prédios.
Segundo ele, os corais têm uma taxa de crescimento bastante lenta, alguns milímetros por ano, o que faz com que sejam necessárias décadas para se ter uma colônia de tamanho grande.
“Naturalmente ocorre a erosão dos recifes. O recife é um balanço de construção e erosão. Se você não tem coral, você não tem construção [do recife]. E se só tem erosão, o recife vai rebaixar e os 2,5 metros de maré, que a gente tem no estado, avançam e causam erosão costeira”, explica
A bióloga Gislaine Lima, da organização não governamental Projeto de Conservação Recifal, explica que a capital pernambucana, por exemplo, sofreu muito com a expansão urbana de sua orla nas últimas décadas, com a construção de centenas de prédios.
A pesquisa destacou que uma das medidas para manter a saúde dos recifes é a destinação de recursos dos governos para as unidades de conservação, como a implementação de taxas para a preservação da costa, monitoramento da saúde dos recifes e promoção de um turismo sustentável.
Com o estudo, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente de Pernambuco se manifestou por meio de nota e informou que os recifes de corais são um dos principais ecossistemas marinhos do estado. A pasta alegou ainda que atualmente tem dez projetos voltados diretamente para o plano de conservação.